RELATO DE EXPERIÊNCIA


Novas tecnologias e o
mundo do trabalho

 

Quando ingressei na área de “Recursos Humanos” da Prefeitura de Porto Alegre, no início dos anos 90, o mundo do trabalho encontrava-se revolvido por intensas discussões. Nas empresas, problematizavam-se as novas formas de gestão inspiradas no modelo japonês; enquanto no serviço público debatia-se a Reforma Administrativa. Essas eram duas facetas de um mesmo processo de ajuste da gestão às novas tecnologias e de “atualização” das relações de trabalho à nova correlação de forças da onda neoliberal (Collor, Menem, Fujimori).
 
Visando a estudar as relações de poder no trabalho e a pesquisar as práticas de gestão, no final dos anos 90 ingressei no mestrado em Psicologia Social e Institucional na UFRGS (PPGPSI-UFRGS). A dissertação, de inspiração foucaultiana, resultou no livro “A Face Oculta da Organização: a microfísica do poder na gestão do trabalho” (coedição UFRGS/Sulina). Concluído o mestrado, passei a também atuar em projetos esporádicosde capacitação e desenvolvimento institucional em diversas organizações públicas, como os Correios (ECT), a CEEE, o TRT, o TRF 04.
 
A partir dos anos 2000, vimos, em todo mundo, uma nova aceleração das transformações tecnológicas – exigindo das organizações uma forma de gestão mobilizadora de inovação e conhecimento – e da precarização do trabalho.
 
No Brasil, tivemos o predomínio relativo do investimento na proteção ao trabalho e aos direitos sociais, criando um ambiente que favoreceu a ampliação do espaço da Psicologia Organizacional e do Trabalho e da inserção de psicólogos nas diversas políticas públicas.
 
Neste período, ingressei no doutorado no PPGPSI-UFRGS, buscando pesquisar o impacto dessas transformações sobre as organizações e as bases para pensar um modo de gestão voltado à promoção da invenção e da realização profissional no trabalho. A tese deu origem ao livro “Trabalho e Gestão na Perspectiva da Atividade: clínica, crítica e cartografia”, lançado no final de 2018, pela Editora Sulina.
 
A partir de 2015, o Brasil entra em plena sincronia com a dinâmica mundial e ingressa em um processo de aprofundamento da precarização das relações de trabalho, com a expansão indiscriminada da terceirização e a redução dos direitos trabalhistas. No serviço público, esse processo é agravado pela agressão ao conteúdo do trabalho dos servidores, decorrente dos cortes orçamentários (EC 95) e do ataque às políticas públicas. O pano de fundo desse vertiginoso processo de mudança é a 4ª Revolução Tecnocientífica – que está extinguindo grande parte dos postos de trabalho – e a crise do sistema capitalista, que cada vez mais tem seu centro de acumulação na esfera fictícia da especulação financeira em detrimento da produção. Pensar a Psicologia Organizacional e do Trabalho neste novo e complexo ambiente é o desafio que hoje nos cabe responder.
 


JOSÉ MARIO DÁVILA NEVES
Psicólogo na SMS/PMPA, mestre e doutor em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS. Pesquisador, professor e consultor em Desenvolvimento Institucional e Psicologia do Trabalho. Sócio e consultor da NEXUS Consultoria e Desenvolvimento Institucional.
 
 
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