PSICOLOGIA E PESQUISA

 

Racismo, Antirracismo e a Pandemia da Covid-19

Está em desenvolvimento a pesquisa “Necropolítica e População Negra: problematizações sobre racismo e antirracismo e seus desdobramentos em tempos de pandemia e pós-pandemia da Covid-19”. A iniciativa, coordenada pela professora doutora Miriam Cristiane Alves, tem o objetivo de compreender e problematizar os efeitos do racismo e da luta antirracismo na vida de homens e mulheres negros antes, durante e pós-pandemia da Covid-19. O projeto está inserido na grande área das Ciências Humanas, com interfaces no campo da saúde, e compõe as atividades do “Núcleo de Estudos e Pesquisas É’LÉÉKO: Agenciamentos Epistêmicos Antirracistas e Descoloniais”, vinculado ao curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Em tempos de pandemia da Covid-19, a possibilidade de destruição material de corpos negros é exacerbada se considerarmos a histórica situação de vunerabilização social e racial a qual a população negra está submetida há mais de 500 anos. As discussões teórico-metodológicas partem de produções de conhecimentos contra-hegemônicos, cuja perspectiva epistemológica de Ciência é tomada como uma forma de produzir questionamentos, reflexões e intervenções com sujeitos, grupos e comunidades numa relação sujeito-sujeito. A escolha dos métodos e técnicas de pesquisa partiu da necessidade de potencializar a relação dialógica entre pesquisadoras/es e participantes (pessoas adultas, maiores de 18 anos, autodeclaradas pretas e pardas, que se dispuserem a contribuir com as discussões propostas pelo projeto). 

A pesquisa tem o propósito de se desdobrar em outros subprojetos que são desenvolvidos em parceria: com profissionais de outros cursos da universidade e de outras instituições e/ou centros de pesquisa; com estudantes de graduação e pós-graduação da UFPel e da UFRGS. Esses subprojetos serão articulados com o projeto maior do ponto de vista teórico e metodológico. Busca produzir problematizações, reflexões e produções teórico-práticas tendo como centralidade a insurgência de epistemologia e metodologias negras no campo das ciências humanas e da saúde, e a necessidade de propor, estabelecer e difundir o que poderíamos chamar de uma ciência negra a se enunciar, desde seu lugar negro, com todas as decorrências desta escolha política. 

Estão sendo utilizadas diferentes perspectivas teóricas e políticas em torno de um eixo: o antirracismo, cujos deslocamentos, desdobramentos e agenciamentos epistêmicos irão subsidiar a compreensão sobre o fenômeno estudado. A construção teórica do estudo tem a potência de estimular reflexões sobre usos e interpretações de matrizes do pensamento negro e produzir, quiçá, o que aqui chamamos de uma ciência negra desde o lugar ético, estático, ontológico e epistemológico negro.

Como pressuposto, há a ideia de que o lugar importa, considerando as contribuições do pensamento de Édouard Glissant, Hill Collins, Bell Hooks, Lélia Gonzalez e Silvia Cusicanqui. Ou seja, o lugar desde o qual se produz e difunde conhecimento, o lugar desde o qual se compreende e se enuncia o mundo, assim como o lugar desde o qual se escuta e se apre(e)nde os diferentes lugares deste mesmo mundo. 

Considerando o jogo de poder estabelecido pela ideia de raça, pelo racismo e pela pandemia da Covid-19, as/os pesquisadoras/es se questionam sobre o modo como o estado exerce o controle sobre a mortalidade dos corpos negros, tomando-os como descartáveis, a partir da ideia do Outro, do Não-Humano, do Não-Ser. Ao mesmo tempo em que é construída a narrativa do Outro descartável, também é construída a narrativa da existência do corpo negro que se constitui como um atentado, uma ameaça ao corpo branco, à branquitude, à supremacia branca e que, portanto, necessita ser eliminado. 

Outros questionamentos emergiram na construção do projeto da pesquisa: Como homens e mulheres negras têm se sentido desde que a pandemia começou? Conseguiram fazer o isolamento social ou foi necessário manter o trabalho? Quais as principais transformações em suas vidas desde o início da pandemia? Quais as implicações do racismo e da luta antirracismo antes, durante e pós-pandemia? Essas são apenas algumas das perguntas que emergem nesse projeto e com o intuído de escutar, visibilizar e conectar vozes negras. 

Para saber mais sobre o projeto, acesse https://www.facebook.com/grupoeleeko/posts/785937225275682.