EDITORIAL

É com imensa satisfação que entregamos à categoria a Edição nº 87 da Revista Entrelinhas, com novo projeto gráfico. A pandemia segue mobilizando a revisão de nossas práticas e exigindo amplos esforços.

A seção Transparência passa a constar na revista como uma nova forma de prestação de contas das ações do CRPRS na pandemia e, por meio dela, esperamos aproximar nosso trabalho ainda mais da sociedade. Ademais, a discussão das consequências da pandemia na Psicologia Hospitalar e na Psicologia do Trabalho demonstram como a profissão precisou se deixar invadir por novas formas de trabalhar e viver (e morrer) que impõem a formação no ato da experimentação – releituras necessárias dos preceitos éticos, técnicos e políticos da profissão.

E aqui encontramos o discreto protagonista desta edição, os desafios contemporâneos – sanitários, institucionais, legais e sociais – impondo uma parada obrigatória para repensar nossa forma de aprender a fazer Psicologia. Que epistemologias estão implicadas em um fazer psi da interface de gênero, sexualidades, classe e raça, numa perspectiva integral da subjetividade e posicionada em nosso tempo social e histórico? Quais balizas buscar para fazer a leitura dos desafios que a profissão precisa enfrentar em seus fundamentos?

A seção Psicologia e Pesquisa discute um importante aspecto do processo formativo, a heteronormatividade. Ela ainda habita nossa profissão porque deixamos o imaginário social inundar nossa práxis, ou são nossas teorias que ‘cientificizam’ a norma social heterossexual?

Como aprendemos a naturalizar a normatização das sexualidades como algo próprio de nosso fazer?

O impacto da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3481, que culminou na liberação da comercialização de testes psicológicos, é retratado na seção Reflexões, apontando a necessidade de fazer desse obstáculo um novo imperativo de investimento na formação em Avaliação Psicológica para superar de vez a errônea associação, ainda presente, de que avaliação se reduz à testagem.

Na Reportagem Principal, um tema sensível para a sociedade se apresenta à nossa profissão: o aborto legal e as tentativas de proibição total da prática no Brasil. Vivemos a emergência aguda da “agenda anti-direitos” das mulheres na qual há também o cerceamento de profissionais da saúde em sua tarefa de cuidado de mulheres em situação de violência. E sabemos operar sobre a realidade da violência contra as mulheres a partir de nosso conhecimento formal? Que referências precisamos buscar para que nossas práticas não violem o direito ao aborto legal e outros direitos das mulheres na Clínica, no Trabalho, nas relações com a Justiça, nas políticas públicas e em outros campos de prática?

Convidamos você a manter no horizonte da leitura a reflexão sobre o futuro que devemos construir para a Psicologia, que depende de nossas atuais escolhas no âmbito da nossa formação ao acolher desafios que se impõem à nossa profissão.

Gestão Frente em Defesa da Psicologia RS