DICAS CULTURAIS

 

Fios de Ouro no Abismo 

Meu primeiro contato com a obra “Fios de Ouro no Abismo”, da psicóloga Karina Acosta Camargo, foi por meio da voz da própria autora. Ela leu um trecho do livro num encontro da ABRAPSO, em 2019. Desde lá aquele trecho (e o livro) acompanha minha prática pessoal e profissional num convite constante a uma ética que inclua a reflexão sobre o laço social em que estamos inseridos. 

Lê-lo é caminhar no abismo da intimidade, da violência, dos silenciamentos e das estruturas sociais da nossa sociedade. A autora traz o insuportável conhecido de todos com a delicadeza e a força do corpo, não nos deixando cair no abismo, pois ao mesmo tempo que o insuportável ganha voz, há uma rede que nos segura, são fios de ouro. Fios que desenham as possibilidades de transformações sociais e políticas com muita poesia frente ao horror. 

Este livro é uma declaração de uma prática psi sensível e cartográfica que traz a lembrança viva de que o pessoal é político e que dar voz a ele é transformador. 

Marina Medeiros Pombo 
Psicóloga (CRP 07/20844) e psicanalista 

 

Pacientes que curam 

O livro “Pacientes que curam” é um grito em defesa do SUS e do cuidado de qualidade e humanizado em saúde. Lançado em dezembro de 2020, ano em que, mais do que nunca, o Brasil e o mundo foram convocados a refletir sobre a importância do acesso à saúde, ele traz algumas vivências da médica Júlia Rocha, mulher negra, mãe, cantora e médica de família e comunidade com 10 anos de atuação no SUS, incluindo passagens pela Atenção Básica, UPA e Hospital. 

Relatos de pacientes que sofrem “de país”, “de miséria”, “de desumanização”’, “de racismo” ou ainda “de opressão por machismo” nos mostram o quanto o cotidiano do SUS é permeado por questões que vão para além daquelas ditas ‘de saúde’ e perpassam questões sociais, econômicas, de gênero e étnico-raciais. 

É um convite a usuárias/os e profissionais do SUS a refletirem sobre suas vivências e encontros de cuidado, onde ambos sentem-se um pouco ‘curados’ quando, na impossibilidade de vivenciar uma clínica neutra, dispõem-se a sentir e a se afetar na relação de cuidado. Nas palavras da autora, o livro é “sobre alguém que ousou e se permitiu sentir o cheiro da dor do outro e dela se compadeceu”. 

Dalmara Fabro de Oliveira 
Psicóloga (CRP 07/27606) e conselheira do CRPRS

 

 

Seduced: inside the NXIVM

O documentário “Seduced: inside the NXIVM” trata da história de um culto moderno de servidão sexual disfarçado de programa de sucesso executivo, dividido em “fisgada, doutrinada, escravizada e exposta”. O filme mostra a sistematização da captura de mulheres, marcadas a ferro e escravizadas. As perguntas que surgem e também são verbalizadas por uma das vítimas, India Oxenberg, são: “Como caímos nas garras desse homem? Se alguém me dissesse que eu entraria numa seita, ficaria doida, seria escrava de alguém, eu não acreditaria. Como fui doutrinada sem nem perceber?”. A obra indica que podemos e devemos nos fazer as mesmas perguntas, com muito mais cuidado e respeito às vítimas, uma vez que este é um processo minuciosamente construído e pode ser transposto, inclusive, para casos de mulheres que vivem em situação abusiva e não conseguem se desvincular de seus abusadores. Essa indicação contribui para a forma de observar e intervir diante de tais situações. 

Carla Mariela Carriconde Tomasi 
Psicóloga (CRP 07/08344) e conselheira do CRPRS 

Jocélia da Cruz de Almeida 
Psicóloga (CRP 07/28766)