EDITORIAL

Em agosto de 2020 aventamos que quando a pandemia chegasse ao fim a vida não seria mais a mesma e fizemos votos de que novas ordens mundiais e de relações surgissem acompanhadas da justiça social, da humanidade e da solidariedade. Talvez seja mais estratégico acompanhar o pensamento de cientistas como Cusicanqui* e problematizar a concepção linear do tempo. Dessa forma, a produção de conhecimento dos povos indígenas é devidamente reconhecida como contemporânea e potente para que possamos criar essas novas (para nós, brancos) ordens de relações. Na Reportagem Especial contamos com Rejane Paféj Kanhgág, Vanessa Terena, Thaynara Sipredi e Júlia Castro Martins para atualizar o fazer psicológico e nos auxiliar a construir ordens de relações mais justas e solidárias, não apenas para o humano, mas para a vida.

A utopia tem o potencial de nos provocar para o movimento e é sempre bom lembrar que as maiores criações em termos de solidariedade e justiça são construídas coletivamente. Por isso, chamamos a atenção para a reativação do Sindicato dos Psicólogos do Rio Grande do Sul (SIPERGS), fruto de esforços coletivos e continuados. No mesmo sentido é fundamental que profissionais e estudantes de Psicologia estejam engajadas/os na construção da pauta que irá reger as próximas gestões do Sistema Conselhos, mediante a participação nos Pré-Congressos Regionais da Psicologia (que já começaram a acontecer) e no 11º Congresso Regional da Psicologia (Corep), com vistas ao 11º Congresso Nacional da Psicologia (CNP), que terá como tema “O Impacto Psicossocial da Pandemia: desafios e compromissos para a Psicologia Brasileira frente às desigualdades sociais”. É igualmente importante o engajamento na defesa do cuidado em liberdade, mediante a participação de todas e todos na 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) e nas suas etapas preparatórias nos municípios e nas Unidades da Federação.

Mas, tão importante quanto a luta é a celebração da vida e das experiências vividas, por isso compartilhamos, na seção “Relato de Experiência”, trechos de algumas das cartas selecionadas na coletânea “Gestos, Memórias e Narrativas da Escuta Clínica Permeada pela Tecnologia da Informação e da Comunicação”, lançada pela Comissão de Processos Clínicos e Psicossociais do CRPRS.

Não poderíamos deixar de apresentar parte da polêmica que está ocorrendo em torno da regulamentação da psicoterapia. Para tanto convidamos a psicóloga Fernanda Serralta a refletir sobre o tema. Também era inevitável abordar a pesquisa sobre a atuação de psicólogas/os na política pública de prevenção da autolesão e do suicídio e posvenção que está sendo realizada pelo Centro de Referência em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP.

No Observatório de Direitos Humanos destacamos o tema da megamineração. Qual é o lugar desse assunto numa revista de Psicologia? Uma frase provoca essa reflexão: “a unidade humana pode fazer, devastar ou defender a vida”.

E façamos de 2022 um ano de valorização da vida!

* Silvia Rivera Cusicanqui é uma intelectual e ativista boliviana de origem aimará, referência no campo de pensamento decolonial