OBSERVATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS
Em defesa dos direitos da população LGBTQIA+
Desde sua aprovação, a Resolução nº 01/99 sofreu intensos ataques por parte de setores da categoria que não reconhecem a diversidade sexual e de gênero, isto é, que tratam a população LGBT como portadora de algum tipo de patologia, transtorno ou anormalidade.
A Resolução surgiu com a intenção de coibir terapias de reversibilidade ou, em termos populares, as tentativas de “cura gay”, em um contexto de reconhecimento dos direitos fundamentais da população LGBT, que ganharam espaço com a Constituição de 1988.
De lá para cá, foram inúmeras tentativas de boicote à Resolução pelas vias internas ao Sistema Conselhos de Psicologia e por vias judiciais. Em todas as ocasiões, a normativa foi sustentada e reafirmada, mas as tentativas de derrubá-la não cessaram. Não obstante, o movimento LGBT fortaleceu-se e, inclusive, agregaram-se “letras” à sigla, hoje difundida como LGBTQIA+. É pela atualidade do tema que se decidiu pela elaboração de uma nota técnica relacionada à Resolução nº 01/99. A nota técnica veio com a intenção de atualizar termos e conceitos, sistematizando os novos acúmulos do movimento LGBTQIA+ para a categoria e reafirmando princípios presentes originalmente na resolução.
Com o avanço do conservadorismo articulado aos valores de uma família tradicional e da heterossexualidade compulsória, parte dos setores da categoria buscaram nessa narrativa autorização para práticas de reversibilidade. A nova face da “cura gay” aparece mascarada através do discurso “pela liberdade dos sujeitos e da prática psi” associando o sofrimento às vivências LGBTQIA+. Aqui a reversibilidade aparece como “libertação” e “saída” desse cenário atualizando a tutela médico-jurídica sobre corpos que escapam a cisheteronormatividade.
Em 2020 o Grupo Gay da Bahia registrou 237 mortes de LGBTQIA+ em relatório. É sabido que os dados de violência são afetados pela subnotificação devido a não inclusão de orientação sexual nos boletins de ocorrência e não regularidade de pesquisas. Com seus direitos ameaçados, a população LGBTQIA+ se organiza pela reivindicação de censo específico para determinar suas particularidades entendendo que a invisibilidade até o momento não é uma ação despropositada, mas que organiza e mantém o sistema cisheterossexual.
Marianna Rodrigues Vitorio
Conselheira CRPRS (CRP 07/30799)..
Samantha Medeiros Ferreira
Colaboradora Comissão de Direitos Humanos (CRP 07/30137).