A Psicologia é uma ciência e profissão comprometida com as lutas e as transformações sociais do país, guiada pelo compromisso de um fazer científico, ético e político. É sob essas premissas que a profissão completa agora, em 27 de agosto de 2022, 60 anos de regulamentação no Brasil. Essa trajetória sempre foi marcada pela participação de profissionais, entidades e coletivos que contribuíram na construção de uma profissão que tem como marca o cuidado e a promoção da saúde e da dignidade humana, e é participante ativa nas políticas públicas. Hoje somos mais de 425 mil profissionais no Brasil presentes, nas políticas públicas da saúde, da assistência social, na educação, na clínica, no sistema de justiça, na segurança pública, no trânsito, nos esportes, e em todos os contextos em que o cuidado à saúde mental é um chamado.
Vale lembrar que o Sistema Conselhos de Psicologia foi criado durante o período da ditadura militar, em 1971, com uma concepção de atuação mais rígida e cartorial. Porém, buscando edificar um fazer da Psicologia com base na participação democrática de toda a categoria, organizou-se o Congresso Nacional da Psicologia e a Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças. Tal movimento fomentou uma organização equânime frente à diversidade das regiões do país, atingindo cada vez mais os segmentos historicamente inviabilizados pela sociedade.
Com a pandemia da Covid-19, a profissão precisou se reinventar e, mais uma vez, reafirmar seu compromisso social. Com o agravamento das desigualdades sociais, e as manifestações de racismo, machismo, capacitismo, LGBTIfobia e outras formas de opressão e ódio cada vez mais autorizadas, resistimos e seguimos orientando, debatendo e redefinindo as condições técnicas e éticas do fazer da Psicologia, enquanto ciência e profissão.
Essa edição especial da revista EntreLinhas foi organizada para relembrar um pouco desses 60 anos da profissão e refletir sobre o futuro. Convidamos algumas e alguns protagonistas dessa história e novas/os profissionais a compartilhar suas memórias, dividir experiências significativas que estão inseridas nessa trajetória. De que forma suas vidas foram impactadas pela Psicologia? Como contribuir para o fortalecimento da profissão na luta pela garantia de direitos? O que esperar para o futuro da Psicologia? São algumas reflexões apresentadas nos textos ao longo da revista.
Sabemos que ainda há muito a ser feito. Mas o olhar sobre os 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil evidencia a formação de uma base sólida e que nos projeta para uma prática ancorada nos direitos humanos, no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade e da integridade humana, princípios que norteiam o código de ética profissional de nossa categoria e que devem balizar nossa construção de futuro.
Esperamos que os relatos compartilhados aqui sigam nos inspirando a reafirmar nosso compromisso com a vida, em toda a sua pluralidade e diversidade.
Boa leitura!