PSICOLOGIA E PESQUISA


Em junho deste ano, a Organização Mundial da Saúde lançou a décima primeira
versão da Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID). A CID-11 mapeia a condição humana
desde o nascimento até a morte: qualquer condição de saúde ou doença que nos deparamos
ao longo da vida – e qualquer coisa da qual  possamos morrer – é codificado.
Essas estatísticas formam a base para quase todas as decisões na saúde tomadas hoje e
possibilitam a decisão sobre como programar Serviços de Saúde (como o SUS), alocam recursos
e investem em pesquisa e desenvolvimento.
 

Organização Mundial da Saúde
lança nova Classificação
Internacional de Doenças


Em um mundo de 7,4 bilhões de pessoas falando quase 7.000 idiomas, a CID fornece um vocabulário comum para registrar, relatar e Monitorar problemas de saúde. Cinquenta anos atrás, seria improvável que uma doença como a esquizofrenia fosse diagnosticada de forma semelhante no Japão, no Quênia e no Brasil. Agora, se um médico em outro país não puder ler os registros médicos de uma pessoa, ele saberá o que significa o código da CID. Sem a capacidade da CID fornecer dados padronizados e consistentes, cada país ou região teria suas próprias classificações, que provavelmente só seriam relevantes no local em que fossem usadas. A padronização, portanto, possibilitou a análise global de dados de saúde.
 
Em junho de 2018, 18 anos após o lançamento da CID-10, a Organização Mundial da Saúde lançou a primeira versão da CID-11, permitindo que se planeje sua implementação. Ela será apresentada para adoção dos Estados Membros em maio de 2019 (durante a Assembleia Mundial da Saúde) e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022. 

A nova classificação foi atualizada para o Século 21 e reflete avanços na ciência. Por ser totalmente eletrônica, a nova versão pode ser facilmente integrada a aplicativos de saúde e sistemas de informação, o que tornará a ferramenta muito mais acessível. Outra característica importante é que a CID-11 foi produzida de forma transparente e colaborativa, cujo escopo é sem precedentes na sua história. 

A inclusão ou exclusão de condições na CID não diz respeito à qualidade ou à eficácia de um tratamento. As revisões nas inclusões de condições de saúde sexual, por exemplo, foram feitas quando a evidência das pesquisas não estava alinhada com questões culturais. Assim, a CID-6, publicada em 1948, classificou a homossexualidade como um transtorno mental, sob a suposição de que esse suposto desvio da norma refletia um transtorno de personalidade. Posteriormente, na década de 70, a homossexualidade foi removida da CID e de outros sistemas de classificação de doenças. Agora, a incongruência de gênero também foi removida dos transtornos mentais na CID e passa a constar nas condições de saúde sexual. O raciocínio é que, embora haja evidências claras de que a incongruência de gênero não é um transtorno mental – e de fato classificá-la assim pode causar enorme estigma para as pessoas trans – ainda há necessidades de cuidados de saúde para serem atendidos que exigem que a condição seja codificada pela CID.
 
A INCONGRUÊNCIA DE GÊNERO FOI REMOVIDA DOS TRANSTORNOS
MENTAIS NA CID E PASSA A CONSTAR NAS CONDIÇÕES DE SAÚDE SEXUAL.
No que diz respeito à saúde mental, os códigos da CID são especialmente importantes, uma vez que são ferramenta de diagnóstico. Transtornos por jogos eletrônicos e outros comportamentos viciantes, como o transtorno de acumulação, cuja evidência mostra que são problemas de saúde e requerem rastreamento através da CID, estão agora incluídos na CID-11. Além disso, condições como “desejo sexual excessivo” foram reclassificadas como “transtorno do comportamento sexual compulsivo”.
 
Outra mudança significativa na seção de transtornos mentais da CID-11 é a tentativa de simplificar os códigos o máximo possível para permitir a codificação das condições de saúde mental pelos profissionais que atuam na atenção básica em saúde e não somente pelos especialistas em saúde mental. Este será um movimento importante, uma vez que o mundo ainda tem uma escassez de especialistas em saúde mental – 9 em cada 10 pessoas que necessitam de cuidados de saúde mental não o recebem.

Saiba Mais:

-> Lale Say, coordenadora do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS, explica, em um vídeo publicado pela OMS, o que muda sobre a transexualidade na CID-11. https://bit.ly/2K5FKtt

-> Shekhar Saxena, diretor do departamento de saúde mental e abuso de substâncias da OMS, fala sobre mudanças relacionadas à Saúde Mental na CID-11. https://bit.ly/2K4SkZY