DICAS CULTURAIS

Bora Combina?
 
Em 2023, o conselheiro vice-presidente do CRPRS, Ademiel de Sant’Anna Junior, produziu a Poesia de Combate (Exercício de Atrevivência) após convocado, em uma palestra, a provar os efeitos da colonização no ensino de Psicologia. Confira o texto na íntegra:
 
Vou te fazer uma pergunta
Mas bora combina?
Sem vergonha de Respondê
Não vale mentir e nem disfarça.
O objetivo é incomodação.
Diz aí qual o efeito em você da colonização?
Em mim hoje posso falar.
Clausura de pensamento Inadequação
Controla esses gesto
Não balança tanto a mão.
Seja magra
Seja forte
Seja fitness
Sem chorar
Ih quer ver ele não sabe nem falar…
Não sei como na universidade cinco anos ficou?
Passou em tudo, bom aluno
Fala até do biopoder de Foucault.
Coração acelerado
Boca seca
Batimento alto e pressão.
Produção... produção... produção... produção.
Condução da mão que digita do punho que
escreve
Dor de cabeça e uma vírgula não erre.
Será que completo a formação?
Será que completo o mestrado?
Será que chego ao doutorado?
Será que saio do doutorado?
Epistemologias, metodologias Topologias...
Ai meu coração...
Subjetividade na atividade de se desfazer...
Desmascarar!
Eu protesto por um currículo que me faça
tremer, e tem como.
Mitos gregos que olham pra cima de cima
sentada na copa gritam de lá
Não saia da cozinha não.
Nenhuma surpresa quando a formação vem de
Europa.
Fale francês, Fale inglês, Fale alemão
e olhe lá.
Mas não me venha nesse texto usar Yorùbá
Se quiser até pode, fica bonitinho mas vai ter
que traduzir todas as palavras né?
Se não a Gestalt não fecha
dasien, acting out
E por aí vai.
Não passa da copa viu menino.
Assutada?
Com a sua formação, sim a sua mesma, é da
Europa dos intestino até o forame do
Zigomático.
Dasien... Face esqualida
É quase automático.
Amostragem sem expressão Genética,
Lugar do morto, Sublimação.
Lacan disse
Freud disse
Heideger disse
Guattari disse
Narciso, Édipo, anti-édipo
Arquétipos.
Calma nada contra
mas vamo admitir formação alavanca para
sustentar as estruturas do racismo e do
sexismo em uma psicologia branca e cheia de
pelanca sem anca, reta reta linear.
Será que a psicologia consegue sambar?
Vou encerrando com uma advertência, cada
autora, autore, autor aqui presente podem
aparecer na disciplina que você quiser
organizar.
Vou provar?
Achile Mbembe e Aimé Cesaire história da
psicologia.
Isildinha Baptista Nogueira Processos
psicológicos básicos e introdução a psicanálise.
Fanon, Virgínia Bicudo e Ivone Lara já adentram
na discussão da saúde mental, sociedade e sua
alienação.
Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento cultura,
Memória e resistência.
Leda Martins, Conceição Evaristo, Jota
Mombaça: Metodologias e processos de
recriação do pensamento.
Já consegue escutar o samba?
Donde não me exonero?
Virgínia Bicudo, Cida Bento e Neuza Santos
Souza, Audre Lorde, Cesaire e GLISSANT
elementos que percorrem a clínica poética
política das relações.
tornar-se negra e ser branco questionando o
dito universal
o colonialismo pira com seu verme racional
que causa na indefensável branquitude cólica
intestinal.
Com Letícia Nascimento acirrando a discussão,
é de um modo nada efêmero que ela expressa
seus estudos sobre gênero
De quebra da quebrada é Sueli Carneiro em
ação do já denunciado epistemicídio dos que
resistem à altura do chão!
E na linha de frente deste encontrão
Muniz Sodré, Nei Lopes, Ailton Krenak dão aula
de filosofia sambando com Èsù por toda a
teoria.
Ensinam linguagem língua e cognição. E se tu
ainda quiser processos de dessubjetivação
Agora de verdade pra encerrar...
Ainda tem dúvidas do efeito em você da
colonização?
me diga então qual dessas figuras você viu na
sua formação?
 
 
Ademiel de Sant’Anna Junior | CRP 07/22834
Conselheiro vice-presidente do CRPRS.

 

 

Diálogos que (in)formam

 
A revista Diálogos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), chega à sua 14ª edição com pautas de extrema importância para a história da Psicologia no Brasil. Fazendo juz ao seu título, desde sua primeira edição a revista tem sido um importante canal de diálogo e (in)formação sobre temas relevantes e emergentes na Psicologia Brasileira. Neste número, a publicação, reconhecida como um dos materiais de maior alcance entre as profissionais de Psicologia brasileiras, parte do aniversário de 50 anos do CFP para se debruçar sobre as conquistas e desafios de uma história construída e narrada coletivamente.
 
Desse modo, a atual edição da revista Diálogos nos convida a revisitar a trajetória do CFP junto à categoria e à sociedade brasileira por meio de alguns de seus principais marcos. A edição destaca aspectos como regulamentações; luta democrática e antimanicomial; presença nas políticas públicas; direitos da população LGBTQIA+; consolidação da avaliação psicológica; reconhecimento das especialidades profissionais; lançamento contínuo de referências técnicas para a atuação profissional; políticas para a diversidade no Sistema Conselhos de Psicologia e tantas outras conquistas que têm constituído a trajetória do CFP e da própria Psicologia no Brasil.
 
Além disso, ao olhar para essa história, a edição também busca ensejar reflexões sobre o presente e o futuro da Psicologia a partir dos avanços e desafios que temos pela frente na garantia de uma ciência e profissão radicalmente comprometida com os direitos humanos. Considerando que uma formação ampliada em Psicologia precisa considerar a história que constitui quem somos e quem estamos nos tornando enquanto ciência e profissão, convido as/os leitoras/es da Entrelinhas a percorrer a trajetória celebrada na mais recente edição da revista Diálogos. Boa leitura!
 
 
Dan Montenegro | CRP 07/37289
Psicólogo, integrante da Comissão Editorial Nacional da Revista Diálogos nº 14, publicação do Conselho Federal de Psicologia.