RELATO DE EXPERIÊNCIA

As orientações do CRPRS à categoria profissional frente às enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul

 
Antes de 2024, o CRPRS já havia promovido ações de orientação relacionadas a Emergências e Desastres. Destaca-se principalmente, a atuação ativa em Santa Maria após o incêndio da Boate Kiss, em 2013, que vitimou 242 pessoas, e a criação do Grupo de Trabalho em Emergências e Desastres a partir das enchentes de setembro de 2023, no Vale do Taquari. Então, este campo de conhecimento e de intervenção não era inédito ao Conselho. Mesmo assim, o desastre sócio-político-ambiental de maio de 2024 no Rio Grande do Sul motivou a elaboração de novas estratégias de orientação à categoria, dada a proporção territorial e populacional deste evento crítico.
 
Com mais de 95% dos municípios gaúchos atingidos em menor ou maior grau de dano e gravidade – segundo balanço da Defesa Civil do RS –, os impactos do desastre sobre a saúde mental da população rapidamente se tornaram um dos principais aspectos que demandavam atenção imediata. Profissionais da Psicologia passaram a atender aos chamados para compor equipes em pontos de resgate e abrigamento, mesmo reconhecendo a ausência de formação específica para intervenções desta natureza. Na medida e na velocidade da ocorrência dos acontecimentos, o CRPRS os mapeava, elaborando estratégias de orientação que tivessem alcance e efetividade. 
 
Desta forma, foram adotadas diferentes modalidades de orientação no primeiro mês do desastre, ainda em momento de crise e resposta. Foram disponibilizados Webinários no YouTube, acessíveis síncrona ou assincronamente, abordando os seguintes temas: trabalho em rede; referências técnicas; atenção em saúde mental nos territórios; especificidades do luto; cuidar de quem cuida, biossegurança/segurança in loco; atenção psicossocial e socioassistencial nos territórios indígenas; enfrentamento ao abuso sexual e de gênero; saúde mental da população negra e enfrentamento ao racismo ambiental; gestão do cuidado psicossocial em abrigos; redução de danos e atenção psicossocial no uso abusivo de álcool e outras drogas; intersetorialidade e transetorialidade na gestão de desastres; intervenção comunitária e ambiental nas diferentes fases do desastre; Psicologia Escolar e Educacional e situações de emergências e desastres.
 
Além disso, foram ofertadas Rodas de Orientação. Nos primeiros 15 dias, essas rodas aconteceram diariamente, visando contemplar as demandas urgentes de orientação da categoria. Da mesma forma, os canais de comunicação do CRPRS - site e redes sociais - foram atualizados sistematicamente com notícias e material de apoio relacionados ao tema dos desastres. 
 
Uma estratégia de orientação que teve impacto positivo e grande alcance foi a parceria com o humorista Índio Behn, responsável pela carismática personagem Dra. Rosângela, uma psicóloga pouco ortodoxa. A personagem deu voz às orientações (técnicas) produzidas pelo CRPRS, atingindo a categoria de forma mais leve e descontraída. Orientações importantes, como práticas de atendimento on-line e estágio em contexto de crise, foram abordadas por essa via, atingindo os objetivos do Projeto Saúde Mental (en)Cena. 
 
Cabe ressaltar que, já em 01/05/2024, o GT de Emergências e Desastres do CRPRS foi acionado e no dia seguinte o CRPRS reuniu-se com representantes da Política de Saúde Mental da Secretaria Estadual da Saúde (SES) para organizar o cadastro de voluntárias/os, definindo que a SES se responsabilizaria pelo cadastro e o CRPRS, pela validação do mesmo. 
 
Outra estratégia de orientação foram as Rodas de Orientação Territorializadas, realizadas em sete regiões atingidas pelas enchentes. Em 21/05/2024, foi criada a Comissão Permanente de Ecologias, Emergência e Desastres, que já disparou o processo de articulação com outros Conselhos Regionais, que lidam de forma corrente, com a pauta de Emergências e Desastres, assim como, de modo mais amplo, com o Sistema Conselhos de Psicologia, na perspectiva de compor ações em comum e estratégicas, para a atenção aos cenários de emergências e desastres nos diferentes territórios em que os mesmos se apresentam no país, desenhando um protocolo unificado e planos de contingência singularizados a cada regional, para definir ações territorializadas.
 
Além disso, o CRPRS disparou um processo de delineamento de medidas formais para produção de condições apropriadas e facilitadas, para pagamento de anuidades. E, a partir de articulação do CRPRS com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (COSEMS/RS), em 06/06, passou a compor o Centro de Operação de Emergência da Saúde (COE).
 
A cronologia de um desastre é longa, as necessidades da população e da categoria profissional a cada tempo deste evento variam. Então, do mesmo modo que no primeiro mês foram mapeadas as demandas e elaboradas estratégias de orientação específicas para o momento, o CRPRS seguirá atento a esse mapeamento de necessidades para seguir cumprindo sua função precípua e seu compromisso social na reconstrução do estado. 
 
Comissão Ecologias, Emergências e Desastres do CRPRS