ORIENTAÇÃO TÉCNICA

As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul e as principais dúvidas de profissionais da Psicologia endereçadas ao CRPRS

Segundo balanço divulgado pela Defesa Civil em 09 de junho de 2024, as enchentes de maio deste ano no Rio Grande do Sul (RS) deixaram um rastro de 478 municípios afetados, 173 óbitos, 806 pessoas feridas, 423.486 pessoas desalojadas, 18.854 pessoas abrigadas e 2.398.255 pessoas atingidas. Este foi, possivelmente, o maior desastre sócio-político-ambiental da história do estado e do país.
 
Já no primeiro tempo deste desastre, foi registrado o apelo pela inserção da Psicologia nos pontos de resgate e abrigamento. Mesmo que, via de regra, o campo da Gestão Integral de Riscos e Desastres não conste nos currículos obrigatórios dos cursos de graduação em Psicologia, a categoria respondeu ativamente às demandas que se impunham. Neste cenário, o CRPRS foi constantemente acionado para prestar orientações técnicas e dirimir dúvidas. 
 
Nas primeiras quatro semanas, alguns questionamentos tiveram maior expressão. A primeira dúvida que surgiu, ainda durante a evolução das enchentes, foi sobre o cadastramento de serviços voluntários de Psicologia. Compreendendo que essa atribuição é de competência do governo estadual, o CRPRS realizou algumas reuniões com a Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS) para alinhamento desta organização e das informações a serem prestadas. 
 
Ao passo que profissionais do RS questionavam sobre ações voluntárias presenciais, profissionais de outros estados brasileiros e até mesmo do exterior indagavam a respeito de ações voluntárias remotas. Informações equivocadas circularam em larga escala na web, o que motivou a produção de vídeos do CRPRS orientando sobre essa prática. Os pilares normativos desta orientação foram as Resoluções CFP nº 011/2018 e 004/2020, que disciplinavam, à época, os atendimentos on-line (vide atualização da norma através da Resolução CFP nº 09/2024). Contudo, o CRPRS adotou uma interpretação dessas normas à luz da realidade que marcava o estado naquele momento. Compreendendo o colapso dos sistemas de comunicação, transportes e saneamento básico nas semanas iniciais do desastre, e compreendendo a necessidade de análise da viabilidade técnica para prestação de serviços remotos, neste primeiro tempo as orientações alertavam quanto a cuidados éticos a serem tomados pela categoria, priorizando-se os atendimentos presenciais. Essa orientação coaduna com princípios estabelecidos pelo Comitê Permanente Interagências (Inter Agency Standing Committee – IASC) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelecem ações de resposta a crises diretamente nos territórios das comunidades atingidas. 
 
Dúvidas sobre registro documental dos serviços prestados voluntariamente em abrigos também foram constantes. A estas, a equipe de psicólogas/os fiscais do CRPRS respondeu referenciando a Resolução CFP nº 001/2009 e a obrigatoriedade deste registro. Sobre este tema, apresentou-se a ressalva de se articularem os serviços prestados à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do território, para continuidade do acompanhamento das pessoas atingidas. 
 
Outras dúvidas foram debatidas através de Webinários e Rodas de Orientação. Nestes espaços, foram analisados conceitos de Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP), reações emocionais esperadas diante de eventos críticos, luto, gestão do cuidado, gestão de abrigos, racismo ambiental, enfrentamento a violência sexual e de gênero, intersetorialidade e transetorialidade, dentre outros. 
 
A proporção territorial e populacional do desastre sócio-político-ambiental de maio de 2024 no RS foi avassaladora. Diante de tão grave impacto, a categoria de profissionais de Psicologia honrou seu compromisso social, propondo ações voluntárias de assistência às pessoas atingidas. As dúvidas que surgiram neste contexto sinalizam que essas enchentes mudaram não apenas a história do estado e do país, mas também da profissão. O campo da Gestão Integral de Riscos, Emergências e Desastres se tornou pauta obrigatória e prioritária, para que as intervenções da Psicologia possam avançar não apenas na fase de resposta, mas também nas de reconstrução, prevenção e preparação. Neste contexto, o CRPRS cumpriu sua função precípua de orientar a categoria, em diferentes formatos, sobre variados temas, participando ativamente das ações de contingência.
 
 
 
Flávia Cardozo de Mattos | CRP 07/15863 
Coordenadora Técnica do CRPRS  

Antonieta Martins Lopes Bridi | CRP 07/23600
Geovana da Silva Ferreira | CRP 07/26815
Kwala Machado da Rosa | CRP 07/20143
Larissa Goya Pierry | CRP 07/25248
Letícia Goldenberg Gianecchini | CRP 07/12222
Lúcio Fernando Garcia | CRP 07/08011
Psicólogas(os) Fiscais do CRPRS