CREPOP

Mapeando o desastre

Em maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas volumosas, afetando 478 municípios (95% do território) e se tornando o maior desastre sócio-político-ambiental da nossa história. O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, entendendo que o papel da Psicologia é central na resposta de curto, médio e longo prazo, com presteza se colocou à disposição da categoria através do dispositivo de rodas de orientação virtuais e, posteriormente, presenciais. Entretanto, os esforços para uma resposta eficiente a situações de desastre e emergências não podem ser desarticuladas das redes já existentes nos território afetados, sejam elas institucionais (rede de saúde, rede de proteção social, assistência social, secretarias e comissões gestoras), sejam redes da sociedade civil (movimentos sociais, organizações socioculturais e populações tradicionais que compõem os territórios), neste sentido, para além dos movimentos emergenciais de primeiros socorros psicológicos e voluntariados, é preciso mapear os territórios afetados, suas estruturas de saúde e proteção social, a quantidade de profissionais disponível e situação de destruição na qual se encontram, para organizar ações efetivas e direcionadas às singularidades e contextos da destruição.
 
O CREPOP caracterizado por sua função principal - interface entre Psicologia e Políticas Públicas - foi acionado para realizar esse mapeamento situacional e também na construção de redes para compreender, em primeiro momento, quais eram os municípios mais afetados; quais as principais demandas da categoria e quantos profissionais teriam sido atingidos pelas enchentes. A partir desse mapeamento, foi possível dar especial atenção para os 76 municípios que se encontram em situação de calamidade pública, aplicando para estes um segundo mapeamento, para observar 1) a quantidade de equipamentos de saúde e de psicólogas/os; 2) a quantidade de trabalhadores destes equipamentos; 3) a quantidade de psicólogas/os ativas e; 4) acionar as secretarias de saúde e coordenadorias regionais para compreender as diferentes necessidades. 
 
Mapear e levantar dados é o primeiro passo para a composição de políticas consistentes pois, desenhando a situação em dados quantitativos e qualitativos, é possível realizar uma melhor compreensão de diagnóstico situacional, além dos dados servirem de subsídio para discussões importantes frente ao campo da saúde e saúde mental. Esse processo nos mostrou que os municípios podem estar convivendo com inundações, enchentes e/ou deslizamentos e que cada uma dessas situações demanda ações estratégicas próprias a serem trabalhadas. 
 
Quando mapeamos, entendemos que as nossas noções em Psicologia precisam estar a serviço do território e não se dar sobre ele, em razão de que é no encontro que se tornam possíveis reflexões em conjunto com as pessoas que habitam e experienciam o território, com o horizonte suleador de manter a Saúde Mental Coletiva (Fagundes, S. 2020) em constante ação. É imprescindível colocar em perspectiva os saberes locais, esse conceito desenvolvido por encontros transversais, frisa acerca do: ‘’Processo de construtor de sujeitos sociais desencadeadores de transformações nos modos de pensar, sentir e fazer política, ciência e gestão no cotidiano de estruturas de mediação da sociedade [...]’’ (Fagundes, S. 2020). Então, assim, realizar a construção de mapeamentos dentro das políticas públicas é o que proporciona uma aproximação efetiva, objetiva e focada nas necessidades dos territórios, das populações e, assim, também da categoria.
 
 
Luís Henrique da Silva Souza
Conselheiro de Referência do CREPOP/RS
Jéssica Prudente
Conselheira de Referência do CREPOP/RS
Gabriel Alves Godoi
Assessor Técnico de Políticas Públicas
Cecília Freitas
Estagiária