OBSERVATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS

Mudanças climáticas e deslocamentos forçados

As mudanças climáticas têm forçado o deslocamento de um número crescente de pessoas ao redor do mundo nos últimos anos, além de agravarem as dificuldades de quem já tem precisado se deslocar por conta de guerras ou perseguições, como aponta o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
 
Segundo o Centro de Monitoramento do Deslocamento Internacional (IDMC), em 2022 mais de 30 milhões de pessoas no mundo tiveram que se deslocar dentro de seus países por conta de desastres, sendo que 98% desses deslocamentos foram relacionados a riscos ligados a eventos climáticos. 
 
De acordo com dados da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, mais de um milhão de pessoas foram direta ou indiretamente impactadas pelas enchentes no estado nesse ano, sendo que mais de 500 mil dessas pessoas tiveram que deixar suas casas, o que as torna deslocados internos ambientais.
 
As incertezas ligadas ao deslocamento e às perdas e os lutos muito presentes no processo e, em muitos casos, a falta de acesso a condições dignas de moradia, saneamento e alimentação impactam na saúde mental da população. A intensidade e duração desses impactos variam de acordo com as especificidades da população atendida, assim como os recursos disponíveis para o cuidado. A literatura na área de Emergências e Desastres aponta para a importância da intervenção precoce, do acesso à informação de qualidade e da coordenação do cuidado para evitar que uma grande parcela da população afetada desenvolva questões de saúde mental mais graves no longo prazo.
 
Em levantamento com 127 estudos feito pelo Carbon Brief, um dos principais veículos de cobertura sobre mudanças climáticas, políticas energéticas e ciência do clima do mundo, foi apontado que 89% dos estudos analisados afirmam que o aumento do nível do mar agravaria desigualdades e 72% deles apontam que a população mais pobre seria desproporcionalmente afetada.
 
É fundamental que tenhamos Políticas Públicas voltadas para prevenção de desastres climáticos e para o cuidado das pessoas atingidas por emergências e desastres, já que essa é uma realidade cada vez mais presente no nosso cotidiano.
 
Júlia Rodrigues Lobo | CRP 06/120638
Neuropsicóloga Clínica, pós-graduanda em Psicologia e Migração pela PUC-MG.