EDITORIAL

O Rio Grande do Sul enfrentou, em maio de 2024, um período devastador com as enchentes que atingiram o estado. A magnitude dos eventos não apenas transformou o cenário físico, mas também revelou e exacerbou uma série de questões socioeconômicas e políticas que merecem reflexão.
 
O fenômeno natural que se torna cada vez mais intenso, devido às mudanças climáticas, alcançou impacto severo em diferentes comunidades do estado - em áreas urbanas, os bairros mais vulneráveis foram os mais afetados, devido a infraestruturas precárias. A água subiu e levou consigo não apenas bens materiais, mas também a segurança e o bem-estar dos moradores. Em contraste, comunidades rurais e comunidades quilombolas, muitas vezes esquecidas nas discussões sobre políticas públicas, enfrentaram a destruição de lavouras e a perda de meios de subsistência, agravando a situação de vulnerabilidade dessas populações. 
 
É fundamental abordarmos as enchentes não apenas como um desastre ambiental, mas como um desastre sócio-político-ambiental. Essa perspectiva integrada nos ajuda a entender que os impactos das enchentes são multifacetados e interligados. O conceito de desastre sócio-político-ambiental nos permite analisar como as condições estruturais e as políticas públicas (ou a falta delas) contribuem para a ampliação dos efeitos dos desastres naturais.
 
Portanto, a edição n° 96 da Revista Entrelinhas, nos convida a refletir sobre os impactos das enchentes, a partir da atuação do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, que neste contexto, atuou para promover orientações à categoria profissional sobre os impactos das enchentes em diferentes comunidades. A conselheira Tesoureira do CRPRS, Maria Luiza Diello, através do seu texto “A pororoca do encontro da Psicologia com as águas” nos convoca a refletir sobre: “Pensar o tempo em que estamos vivendo, implica em olhar para o que fizemos do planeta, até aqui, e em reconhecer que a vida turva, encharcada e inundada, chama-nos a compor uma Psicologia que atue não somente na emergência do desastre, mas principalmente, na atenção às ecologias mentais, subjetivas, sociais, políticas, estéticas, ambientais, que compõem a tessitura dos muitos tempos que resultam na atualidade em que estamos a viver”.
 
Boa leitura!
 
Tomas Edson Silveira
Coordenador de Comunicação do CRPRS