RELATO DE EXPERIÊNCIA
Os desafios da
Psicologia Escolar
Tenho 30 anos de experiência como psicóloga clínica e 20 anos na atividade de servidora pública municipal, atuando nas políticas públicas da educação, saúde e assistência social.
Na Secretaria Estadual de Educação pude realizar diversas ações, como interlocuções junto aos educadores, equipe diretiva e coordenação pedagógica, discutindo e refletindo sobre as práticas educacionais, palestras nas reuniões pedagógicas das escolas, entrevistas individuais de orientações a pais, acompanhamento da coordenação da educação infantil e coordenação da educação inclusiva.
Por que alguns alunos aprendem e outros não? Quais são os processos que produzem a patologização da aprendizagem?
Tenho me questionado desde que comecei a trabalhar nessa área. Constatei que as causas são multifatoriais: neurológicas, ambientais, emocionais, metodológicas etc. Vi muitos alunos em sofrimento psíquico por não conseguirem aprender. Com satisfação, vi também muitos outros que avançaram e superaram seus limites. Outras vezes, senti-me impotente pois percebia que o problema de aprendizagem era o menor entre tantos outros, muito mais relevantes como a miséria, a rejeição, o abandono, pais negligentes, maus tratos, doenças neurológicas e psiquiátricas e outras enfermidades ou luto na família.
Constatei que as/os psicólogas/os na Educação lutam pela compreensão social de sua função, que ainda não é valorizada nem reconhecida como merece - sendo apenas requisitado/a como solucionador/a de problemas, numa intervenção paliativa, com um campo de ação limitado a problemas de aprendizagem. O contraponto seria desenvolver programas preventivos e investigar melhor o processo de construção do conhecimento, por meio de pesquisas e ações nesta área.
Também constato que sua ação é, na maioria das vezes, solitária, pois não há um atendimento multidisciplinar integrado por uma equipe de saúde especializada em aprendizagem (neurologista, psiquiatra, assistente social, fonoaudióloga/o, pedagoga/o).
Faz-se necessário que o poder público demonstre mais atenção e respeito à educação e a seus profissionais, para que o espaço da escola torne-se um ambiente prazeroso e humanizado já que é ali que o educador e o educando passam grande parte de seu tempo.
Isso significa investir em infraestrutura, em condições dignas de trabalho, em material didático, em recursos humanos e em formação continuada para todas/os as/os agentes da educação. E, também, investir na formação de uma equipe multidisciplinar, onde a/o psicóloga/o esteja incluída/o.
SIMONE MÜLLER CARDOSO (CRP 07/03669)
Psicóloga formada pela UPF, com especialização em Psicologia Clínica, Psicologia Escolar e Psicopedagogia pela FSG. Autora do Livro “Um Olhar para Dentro: examinando Nossas Relações” (Editora Lorigraf, 2010) simonemcardoso@gmail.com
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