DICAS CULTURAIS


   Filme   

Bacurau

Western Sertanejo, Tarantino do Cangaço, “Mad Max” do Brasil atual são algumas das referências feitas à obra de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. “Esta radicalidade é uma resposta ao contexto político do Brasil e de qualquer outro lugar do mundo onde o fascismo avança”, escreve Le Figaro. Entre as muitas polêmicas suscitadas pelo filme, talvez uma única unanimidade persista: é uma distopia furiosa, da qual ninguém sai imune do cinema. Ao narrar o combate de moradores de uma cidadezinha do Nordeste, que misteriosamente some do mapa; contra um bando de paramilitares estrangeiros, que a invadem numa espécie de jogo sinistro sem qualquer racionalidade, os diretores apresentam, sem constrangimentos, cenas de horror anunciadas como ficção que se passaria “daqui alguns anos”. Tão surpreendentemente quanto os forasteiros adentram a cena, entretanto, a trama assume uma assustadora dimensão realista que deixa o expectador entre uma aversão estarrecida frente à crueza da violência invasora e um prazer incontido, como um grito de resistência. As reações paradoxais parecem indicar que, sob certas circunstâncias, a defesa da dignidade se confunde com a defesa da vida. E Arte se confunde com RExistência. 
 
Simone Mainieri Paulon (Doutora em Psicologia Clínica – PUCSP, Pós-Doutora Psicologia – UFRN/UNIBO, professora do PPG Psicologia Social da UFRGS).
 

   Literatura   

Amor, 'bipolaridade' e luta antimanicominal
 

Há uma força produtiva na escrita que muito tem em comum com a produção da própria vida. Das infinitas criações que encontramos nas obras de Roque, uma das mais preciosas é a que ele denomina Terapia Ocupacional Literária - TOL. Fazer do ofício literário uma ocupação terapêutica é um excelente exemplo de aposta na vida como permanente processo de cuidar de si.
 
Em “Amor, ‘bipolaridade’ e luta antimanicomial” conhecemos a bipolaridade através do olhar sensível de quem construiu um modo singular de viver essa experiência. As experiências manicomiais vividas pelo autor na própria pele, bem como o seu protagonismo na luta antimanicomial reforçam nosso compromisso em seguir resistindo aos retrocessos em Saúde Mental que insistem em fazer viver a lógica manicomial. Aprendemos também sobre como o amor nos salva da indiferença, da tristeza e da desesperança.
 
Essa leitura nos permite vivenciar a Terapia Ocupacional Literária, este é o presente do autor para seus leitores. Aproveitemos este convite, respiremos ares antimanicomiais.
 
Robert Filipe dos Passos (Conselheiro Gestão Frente em Defesa da Psicologia RS)