RELATO DE EXPERIÊNCIA


É necessário repensar
a Psicologia


Sou o Vincent Pereira Goulart, 27 anos, psicólogo (UFRGS), homem trans, ativista social. Estou como mestrando em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e psicólogo clínico na ONG SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade, espaço este que presidi durante o ano de 2019. Além disso, coordeno o Núcleo de Psicologia da instituição, inaugurado no início de 2018, com o propósito de atender famílias e casais por meio de oficinas, aconselhamento e atividades psicoeducativas. Hoje, não só realizo atendimentos, mas também supervisiono estágios curriculares. Essa equipe também organiza eventos voltados para o público externo, como cine debates e oficinas que visam a informar acerca de temas referentes a Direitos Humanos, saúde mental, incluindo autocuidado e empoderamento coletivo.  Meu trabalho, como ativista e psicólogo, é voltado especialmente para as minhas e para os meus, outras pessoas trans como eu, e para o fortalecimento do coletivo.
 
É importante ter consciência de que, historicamente, as populações de pessoas trans e de travestis são objeto de classificação e diagnóstico patologizante pelas ciências biomédicas e psi. Uma visão crítica, sócio-histórica e política acerca da Psicologia é fundamental para que se possa refletir acerca de nossas práticas e viabilizar transformações necessárias. Por muito tempo, desde o século XX, a Psicologia consolidou-se como uma área específica para explicar comportamentos rotulados como “desviantes” e “anormais”, a partir da diferença entre os sujeitos, em dados contextos históricos e culturais. Assim, estabeleceram-se critérios diagnósticos problemáticos para a identificação, com o propósito de correção, daquilo que não se enquadra em padrões normativos de gênero, sexualidade, raça e classe, entre outros marcadores sociais da diferença. Um exemplo disso são os critérios diagnósticos que ainda patologizam pessoas trans e travestis, colocando-as sob tutela de um estatuto de transtorno mental que produz práticas colonizantes e de domínio sobre a vida e os direitos dessas pessoas. Nossos discursos ainda são pautados em uma estrutura de sociedade que marginaliza as transgeneridades e deslegitima suas identidades como se a cisgneridade (cis: pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento) fosse a única possibilidade de vivenciar o próprio corpo e gênero. 
 
Faz-se cada vez mais necessário repensar a Psicologia, nossas práticas profissionais e a nós mesmos, enquanto sujeitos em sociedade, em prol de uma profissão alinhada e comprometida com o bem-estar de todas e todos de diversas realidades e vivências, e com a redução das desigualdades sociais.
 
 
 

VINCENT PEREIRA GOULART
(CRP 07/30689)
Psicólogo
vincegoulart@gmail.com

 
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