DICAS CULTURAIS
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Três anúncios para um crime
Não se trata de um enredo empolgante. Nem de uma história cheia de criatividade. O que faz do filme “Três Anúncios para um crime” (dirigido por Martin McDonagh, 2017) uma crítica de sucesso foram as suas convincentes atuações (Oscar de melhor atriz para Frances McDormand), recheadas de excelentes diálogos. Embora poucos e econômicos, emocionam por sua carga dramática e perspicácia. Os momentos de silêncio são retratados de forma extremamente simbólica, cuja maior manifestação é a morte de uma menina – o fio condutor de toda a narrativa. Esses momentos demonstram como até o silêncio pode ser assustador.
Preconceitos de todos os tipos são apresentados em sua forma mais cotidiana, sem teor melodramático ou vitimista. Temas como racismo, homofobia, deficiência, violência contra a mulher e suicídio aparecem explicitamente em diferentes personagens. O filme, porém, evita a lógica dicotômica: a defensora dos direitos dos negros e dos homossexuais é pega em flagrante preconceito em relação a um anão. A contradição dos personagens faz com que nos deparemos com algo que nos une como espécie: nossa dimensão humana.
O filme consegue mostrar as consequências das nossas escolhas: a responsabilidade ou a culpa que elas carregam. E, da mesma forma simples e reflexiva como começa, termina. E nos põe a pensar. (Letícia Giannechini - psicóloga fiscal)
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A forma da água
A água tem forma? Qual a forma da água? Inevitavelmente remetidos à temática forma e conteúdo, a narrativa de Guillermo Del Toro (Oscar de melhor filme em 2017) nos traz inicialmente o enunciado básico de que “todo o conteúdo tem sua forma, isso dependerá do continente que o irá conter”. No caso da água, o conteúdo toma a forma do continente rapidamente, ocupa espaços e pode transbordar.
Elisa, personagem principal, uma jovem muda, fluente em libras e com uma capacidade incrível de observação, é a funcionária da limpeza de um centro de pesquisas onde está presa uma criatura num tanque de água. Seu contraponto é o ambicioso e truculento Strickland, responsável pelo local, que se autoafirma comprando carro novo e humilhando os funcionários submetidos a ele. E também tratando com violência a tal criatura, por quem Elisa se apaixona.
Por ser “deficiente”, Elisa enxerga a criatura tal qual ela mesma em sua mudez e ingenuidade. Entre esses dois que “não falam”, que são discriminados socialmente por suas diferenças, o diálogo possível se dá pelo amor e pelo desejo, em suas similaridades e complementariedades. Amor líquido e fluído, conteúdo que busca forma e expressão.
Mas todo encontro amoroso um dia acaba, nunca sabemos precisamente quando e nem como. E o encontro de nossos protagonistas também não será imune às diferenças quando, juntos, pulam na água e percebem a incompatibilidade que os une. Um na água e outro fora dela, mas restando o amor em comum. O amor tem forma? Qual a forma do amor? (Cleon Cerezer - conselheiro do CRPRS)