OBSERVATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS

E essa crise?

 
A crise do coronavírus é uma crise sanitária? Econômica? Social? Política? A pandemia produz um estado de crise ou são as crises já existentes que levaram à pandemia? De quem é a responsabilidade por ela? Como ela afeta o futuro? Muitas perguntas emergem da situação que vivemos. Precisamos olhar a pandemia para além do vírus, pois o mundo não será - e nem deve ser - o mesmo depois da crise da Covid-19; nem a Psicologia. 
 
A Comissão de Direitos Humanos produziu a campanha “E essa crise?”, com testemunhos que jogam uma lupa sobre as desigualdades sociais e violações de direitos que aparecem amplificadas e agravadas na pandemia. Na agenda do país, a pressão para a retomada da economia - mas se antes da pandemia 40% dos/as trabalhadores/as já viviam de trabalho precário (romantizado como empreendedorismo), a economia garantirá direitos para quem? A vida em sociedade deveria funcionar de modo que o resultado das ações do Estado gerasse condições de vida digna para todas as pessoas; mas a miséria, a fome, a violência contra as mulheres, a morte da juventude negra, o descaso com a vida dos povos indígenas não são uma criação da pandemia - já são a crise de sempre. Como se não soubéssemos que o mundo divide algumas vidas que importam e muitas vidas que não importam. Ainda que a pandemia salte aos olhos, nós a vemos diferente de acordo com o valor que cada vida tem no imaginário social. As vidas que menos valem estão pagando a conta dessa crise. 
 
Devemos exigir um Estado realmente garantidor de direitos para a sociedade que nunca fomos e que precisamos ser. Temos a tarefa de reinventar essa humanidade sedimentada na construção de abismos entre o privilégio de uns e a miséria de tantos. Se estamos só esperando a vida voltar ao “normal” como antes, é porque estamos concordando em não enfrentar as crises de sempre. E por isso, insistimos: e essa crise? Que Psicologia somos (ou seremos) para enfrentá-la? Que sociedade construiremos a partir dela? Confira a campanha em nossas redes sociais.
 
CRISTINA SCHWARZ
Conselheira CRPRS
Presidenta da Comissão de Direitos Humanos