Desde pequeno achava que tinha algo errado comigo, pois eu não tinha cabelo cogumelo como alguns dos meus primos pares. Tenho mais negros na família, negros que não se declaram negros pois em suas certidões de nascimento consta no campo de raça, branca. Bom, queria muito ter aquele cabelo escorridinho, pois era o que representava a maioria das crianças brancas, felizes e alegres em propagandas de brinquedos e novelas infantis na época, então pedia pra minha mãe um tratamento que não deixasse meu cabelo encrespar. Não havendo tratamento algum, dos meus oito anos até minha adolescência, raspava meu cabelo de mês em mês. Outro fato que me recordo e que me causa desconforto até hoje, é de lembrar minha mãe me instruindo a NUNCA colocar a mão no bolso no super. Ela dizia que automaticamente iriam achar que eu era ladrão, e que algo ruim aconteceria comigo.
Talvez o mais chocante ainda esteja por vir, pois um dia, quando criança tomei banho com um "bombril", para tirar a "sujeira", pois achava que eu não era normal sendo dessa cor.
Hoje em dia mescla muito o racismo com a homofobia, pois minha sexualidade e minha raça se interseccionam no meu corpo, e digo que antes o problema era ser negro, hoje é ser negro e gay!
Tiago Rodrigues