Em comparação com décadas passadas, os movimentos de luta na saúde se encontram em um momento de preocupante fragilidade. Verifica-se a ampla privatização da saúde em seus multifacetados processos de terceirização dos serviços. A transferência da riqueza pública para a iniciativa privada vem enganosamente disfarçada na promessa de melhor qualidade de serviços. Vive-se em uma conjuntura de um Estado mínimo no que diz respeito à proteção social. Vende-se a idéia de que o que é público não é e não deve ser bom. De fronte a isso, é imprescindível lembrar que o SUS é uma conquista da sociedade, dos movimentos sociais e da classe trabalhadora na ampliação de direitos e na garantia à proteção do Estado.
O mundo do trabalho e da atenção à saúde dos trabalhadores passou por significativas reformulações com avanços e retrocessos nas formas de atenção à saúde dos trabalhadores. Condições de trabalho degradantes, falta de trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego, perdas de direitos laborais, crescente contingente de trabalhadores e trabalhadoras vivenciando situações de intenso sofrimento no trabalho e outros problemas decorrentes das transformações no mundo do trabalho em todos os setores produtivos apontam para a precarização das condições de trabalho e vida. Além disso, um grande número de seminários, encontros e debates focam o aumento e os efeitos do assédio moral vivenciado pelos trabalhadores.
Abordar a saúde do trabalhador nesse dia mundial da saúde objetiva resgatar o olhar da saúde coletiva em oposição à lógica individualizadora dos problemas de saúde. Enfrenta-se ainda grande dificuldade em realizar nexo causal que visibilize os processos de trabalho adoecedores. Persiste uma lógica de responsabilização do indivíduo pelo seu adoecer.
É importante recordar que o SUS orienta-se pela compreensão do processo saúde-doença contextualizado o indivíduo nas relações sociais, nas condições de trabalho e de vida. Deve-se ressaltar o papel dos determinantes e condicionantes sociais da saúde.
Falar da saúde do trabalhador é falar da relação entre processo de produção e consumo, das repercussões dos processos produtivos na saúde da população. Envolve olhar a pessoa na relação com a sua atividade, na forma pela qual se insere no processo produtivo. Requer considerar a centralidade do trabalho na subjetividade humana como via de produção de saúde.
Diante disso, a convocação nacional e estadual da 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador é um momento estratégico. Urge espaço de debate para construção de alternativas que de fato interfiram na organização do trabalho. Juntar-se em busca de ações de defesa do trabalho digno e saudável, da participação dos trabalhadores nas decisões quanto à organização e gestão dos processos produtivos e na busca da garantia da atenção integral à saúde para todos.
Assim, é importante refletir enquanto categoria e sociedade a relevância da participação ativa para que essas construções sejam possíveis e para que se possa de fato viabilizar ambientes e processos saudáveis de trabalho, produtores de saúde, transformando os cenários de trabalho existentes. Enfim, mudar a lógica de olhar para a saúde coletiva em busca de outros modos de produzir e trabalhar.
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