A data de 13 de maio, Dia Nacional da Denúncia contra o Racismo, marca a não comemoração do dia da abolição da escravatura ou da abolição inconclusa por ressaltar a luta da população negra por liberdade e desmistificar a figura da princesa Isabel como a benfeitora.
Em 2021, o CRPRS destaca os 133 anos dessa falsa abolição, reforçando que essa é uma data em que não há nada a comemorar e sim, muito a lutar.
Confira entrevista, realizada pelas Comissões de Direitos Humanos e de Relações Étnico-Raciais, com Sandra Maciel, conselheira estadual de Cultura, conselheira estadual de Direitos Humanos, coordenadora da Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras.
- O que significa na tua perspectiva como mulher negra o 13 de maio?
O 13 de maio tem alguns significados marcantes na história da população negra e isso inclui as mulheres. O primeiro, e talvez o mais importante, é que, passados 133 anos, as marcas da abolição inconclusa são visíveis. Em 1888 a população negra vivia em condições desumanas e, a partir de 14 maio, um contingente de homens e mulheres foi largado à sua própria sorte, na condição de não-cidadãos, sem dignidade e sem direitos. A pátria brasileira não se mostrou acolhedora aos que nela trabalhavam de sol a sol, como mão-de-obra escrava, e esse fato malévolo é permanente na história da pós-abolição. Os negros subiram o morro, construíram moradias com o que a natureza lhes oferecia, a fome do dia tirava-lhes a esperança de ter o que comer no dia seguinte. Ainda hoje, temos as piores condições de saúde, moradia e educação e segurança para a população negra. Isso é uma construção do Estado brasileiro, que criou essa não-condição de cidadania, com a proibição de ter acesso à terra ou de ir à escola. Na história moderna em que o povo foi submetido a tantas agruras como projeto nacional: que outro povo teve tantas proibições “legais” que impediram a sua cidadania?
- E sobre as consequências da história criada sobre a abolição para humanizar/suavizar esse 13 de maio?
A história contada para colocar a princesa Isabel como salvadora dos negros, escrita em livros e estudada nas escolas, criou a base de uma nação que “se preocupava com pretos e pobres” e criou o projeto de embranquecimento da nação. Posteriormente, criou o mito da democracia racial em que no Brasil não haveria disputa racial, que negros e brancos viveriam nos mesmos espaços, com as mesmas condições, coisa que sabemos que nunca aconteceu e até hoje não acontece. Como Sandra nos mostra, até hoje vigora a desinformação sobre o período da escravidão. A suposta "abolição da escravatura" é/foi uma ilusão. As/os escravas/os foram libertadas/os e abandonadas/os sem condições mínimas de acesso a bens materiais e financeiros. Por essa e outras tantas razões que nesses 133 anos de falsa abolição não há nada a comemorar, e sim, muito a lutar ainda.