No Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o CRPRS destaca o agravamento deste problema com a pandemia da Covid-19. Diante do fechamento das escolas e de outros espaços importantes para a construção de vínculos de confiança com adultos fora de casa, crianças e adolescentes ficaram ainda mais vulneráveis à violência sexual durante o isolamento social decorrente dessa pandemia.
De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Instituto Sou da Paz e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), as denúncias de estupro de vulneráveis – aqueles cometidos contra menores de 14 anos, pessoas com deficiência ou que não podem oferecer resistência por outra causa ou condição de vulnerabilidade, como embriaguez – vinham crescendo nos últimos anos, mas, no primeiro semestre de 2020, apresentaram redução significativa (-15,7%), sobretudo nos meses de abril (-36,5%) e maio (-39,3%), em comparação ao mesmo período do ano anterior. Essa redução evidencia a dificuldade de denunciar esses crimes no contexto de isolamento social e não a sua efetiva diminuição.
Além disso, levantamento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), mostra que pelo menos 75,9% dos casos de abuso contra crianças e adolescentes ocorrem dentro das suas casas e 40% dos agressores são seus próprios pais ou padrastos. Segundo dados da 4ª Delegacia de Polícia de Repressão à Pedofilia, de São Paulo, que possui uma DHPP (Divisão de Proteção à Pessoa), em 2020, os casos registrados aumentaram 56,8% em relação a 2019.
Diante deste cenário, o CRPRS reafirma o papel da Psicologia para enfrentar e superar todas as formas de desigualdades e violências, sobretudo, aquelas que afligem as pessoas mais fragilizadas.
E, para marcar a data, a Comissão de Direitos Humanos do CRPRS convidou o psicólogo, doutor em Psicologia pela UFRGS, Jean Von Hohendorff a refletir sobre o impacto da pandemia no abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Jean é professor do programa de pós-graduação em Psicologia da IMED/Passo Fundo, onde coordena o grupo de pesquisa VIA Redes (Violência, Infância, Adolescência e atuação das Redes de proteção e de atendimento). Realizou estágio doutoral na University of Alabama School of Social Work (Estados Unidos). Desenvolve atividades de pesquisa e extensão com os seguintes temas: situações de risco, violência contra crianças e adolescentes e atuação das redes de proteção e de atendimento para crianças e adolescentes. Autor de publicações sobre violência contra crianças e adolescentes, bem como professor de diversos cursos de capacitação para profissionais das redes de proteção e de atendimento.