Nosso imaginário está repleto de referências à infância, tendo como mais forte expressão a ação de brincar. Buscar na cidade de Porto Alegre espaços que possam responder a essa demanda imaginária parece cada vez mais desafiador. Convocados pelas imagens do brincar percebemos uma certa precariedade do espaço da/para criança na cidade. Cidades grandes, de modo geral, parecem feitas para as necessidades dos adultos, e Porto Alegre, em especial, cresce com velocidade, se preparando para uma brincadeira de todos, o futebol, e para o aumento de moradores e trabalhadores, indicado pelos prédios residenciais e comerciais que se levantam no horizonte da capital gaúcha.
Se atentos para os trajetos das crianças e adolescentes, logo identificamos que eles e elas têm sido atores de outras situações não tão dignas como todos desejaríamos. Nos serviços de saúde, assistência e outros aparelhos públicos percebemos o aumento dos casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Esse número parece se avolumar quando da proximidade de grandes obras. Temos no cenário atual homens chegando de outras cidades e vivendo com bastante dificuldade na capital. Observamos que esse fluxo de trabalhadores talvez não tenha sido planejado, o que também envolve situações de violação dos Direitos Humanos quando percebemos a precariedade com a qual vivem. Violação dos direitos das crianças, violação dos direitos dos trabalhadores.
A questão parece simples: precisamos de um plano da cidade para os impactos da copa. Feito o planejamento é preciso achar apoiadores para as ações: podendo ser eles estaduais, federais, representantes da sociedade civil. Afinal, desde 2006 estamos sob a égide do Sistema de Direitos e Garantias das Crianças e Adolescentes.
Comemoramos, e com razão, algumas conquistas arquitetônicas que embelezam e irão melhorar a circulação na cidade. Entretanto, cidade não é só circulação de pessoas, bens e riquezas, mas também parada. Parar nesse sentido pode ser planejar ações integradas que venham reduzir os impactos do crescimento da cidade na vida de sujeitos de direito que possuem necessidade de proteção: crianças e adolescentes. Parar é pensar que produções são possíveis a partir da Copa, que ações podemos planejar conjuntamente e como as executaremos. É poder vivenciar o crescimento da cidade e das crianças com saúde e preservação do espaço real de brincar.
Júlia Dutra de Carvalho
Psicóloga, Colaboradora da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS