Neste 19 de abril, a psicóloga indígena Rejane Paféj Kanhgág, da Terra Indígena Sede Nonoai, dá algumas pistas sobre como entender o significado desta data para os povos indígenas - e sobre os deslocamentos de perspectiva que a Psicologia e a sociedade necessitam fazer.
Rejane é filha da floresta, semente e continuação das mulheres que foram violentadas, violadas e retiradas de suas terras, mas lutaram até o fim para que ela e outras pudessem estar falando aqui para nós:
“Trazer essas mulheres nos ajuda a pensar o que é ser indígena e refletir sobre esta data, em que se homenageia a luta dos povos indígenas, mas também é um dia que ainda nos impacta muito e nos adoece. É uma data que recorda nossas lutas, mas também todos aqueles que morreram lutando por nossos territórios; nossas crianças que são mortas pelo fato de serem indígenas. Por isso, não se trata de uma comemoração. Quando um filho seu morre, você comemora?
A pandemia está trazendo um desafio a mais para os nossos povos. Nós não estamos conseguindo chorar pelos nossos mortos, fazer nosso processo de término e nossos rituais de passagem - nossos cantos, nossas danças ao redor do ente querido que está fazendo a passagem. Para nós, é muito mais que um término; é um processo de passagem que, se não consegue ser feito, pode manter o espírito dos nossos mortos ali. Essa passagem pode levar meses em algumas etnias, e, caso não possa ser feita, isso pode adoecer uma comunidade inteira – e isso vem, de fato, nos adoecendo de formas que a gente nem imaginava que existiam.
Por isso é essencial a gente pensar uma forma de fazer Psicologia de modo realmente inclusivo nas aldeias, que entenda nossos processos. A minha psicologia é kaingang, na qual os nossos modos tradicionais de vida, de ser e viver, são terapêuticos. O canto, a dança, a conexão com a floresta e os rios, a permissão com a mãe terra - nós somos a semente dela. Isso é importantíssimo para a nossa construção como sujeitos. Nós somos sujeitos de um coletivo.
Contemos a real história de luta dos povos indígenas; a real dificuldade que é ser e viver indígena. Todos os dias é dia do índio. Estamos em todos os espaços; na universidade, na aldeia, nos escritórios; nunca vamos deixar de ser indígenas.
O Brasil é indígena. E buscamos nele simplesmente viver”.
Onde está a luta dos povos indígenas na tua/nossa Psicologia?
Organização: Comissão de Direitos Humanos