Em 25 de julho de 1992, o 1º Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas colocou em pauta as lutas contra o racismo e o machismo e deu origem ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data celebra a vida de Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII, que comandou o Quilombo de Quariterê (no atual estado do Mato Grosso) por mais de 20 anos, unindo negros, brancos e indígenas pela defesa do território. Tereza foi presa e morta em 1770 pelo Estado.
251 anos depois, o mesmo Estado segue a sanha genocida dos tempos de colônia, oprimindo e matando mulheres, sobretudo negras. Em tempos de pandemia, a maior letalidade pelo coronavírus recai sobre as pessoas pretas e periféricas, que detêm a menor taxa de vacinação no país. Mulheres negras são a maioria da força de trabalho nos setores administrativos, de higienização, de portaria, e, mesmo atuando nos serviços de saúde, não tiveram prioridade no acesso à imunização. Houve ainda o agravamento da violência doméstica, especialmente contra a mulher negra. A pandemia não é democrática. Ela evidencia as desigualdades ao expor a mais riscos os que já sofrem com a negação de direitos e a violência de Estado.
Nossa atuação como profissionais da Psicologia necessita fazer frente a isso, pela construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Calcada apenas em saberes norte-americanos e europeus sobre um suposto sujeito universal, nossa formação não pode alcançar uma escuta sensível a não brancos. Relações e marcadores sociais da diversidade de gênero, raça, sexualidade e classe precisam estar articulados ao fazer psi para um atendimento adequado a uma diversidade de sujeitos.
O 25 de julho nos convoca a descolonizar nossos conhecimentos e práticas, reconhecendo a contribuição histórica de mulheres negras brasileiras para a ampliação de um saber decolonial, abrangente, antirracista, antissexista e antiLGBT+fóbico dentro do campo psi. Agradecemos à existência e às ancestralidades de Ceça Costa, Cida Bento, Clélia Prestes, Isildinha Baptista, Jesus Moura, Lélia Gonzalez, Maria Lucia da Silva, Maria Luísa Pereira de Oliveira, Míriam Cristiane Alves, Neusa Santos, Silvia Edith Marques, Thaíse Mendes, Veridiana Machado, Virgínia Bicudo e tantas outras que nos encorajam a lutar por uma Psicologia Decolonial.
Comissão de Relações Étnico-Raciais do CRPRS