O CRPRS promoveu na quinta-feira, 27/01, em parceria com a Frente dos Coletivos Carcerários do RS a atividade “Representatividade social e sistema prisional: a experiência da Frente dos Coletivos Carcerários do Rio Grande do Sul”, na programação virtual do Fórum Social das Resistências.
“Queremos apresentar a experiência desse movimento, que eu muito admiro e que conseguiu se formar e se fortalecer em 2020, durante a pandemia. É um movimento de luta e solidariedade que acaba suprindo falhas das políticas públicas”, destacou a conselheira Maynar Vorga, vice-presidenta do CRPRS e coordenadora do Núcleo do Sistema Prisional do Conselho.
Lisiane Pires, presidenta da Frente dos Coletivos Carcerários do RS, falou sobre a marginalização e o estigma vividos pelos familiares dos presos, tanto por parte da sociedade como de alguns agentes penitenciários. “A Frente surgiu para acolher famílias e dar voz aos que estão lá dentro privados de liberdade”. Para Lisiane, a necessidade de organização da Frente mostra como o Estado não dá conta do que seria sua responsabilidade. A importância do diálogo com o Governo, com a Superintendência dos Serviços Penitenciários, e com demais poderes também foi salientado pela convidada. “A Frente é uma escola para todos nós. Não sabíamos como fazer funcionar, mas sabíamos que precisávamos fazer algo. Queremos pedir ao Governo que nos escutem antes de criar leis ou projetos. Nada de nós sem nós. Sabemos realmente o que acontece no sistema prisional do RS. Podemos colaborar com uma construção muito mais positiva”, concluiu. Lisiane também descreveu a atuação da Frente desde que foi constituída, enumerando ações, estratégias, projetos e eixos de atuação.
Ana Paula Saugo, integrante da Frente em Cruz Alta, participou da atividade relatando sua história como uma prova das falhas do sistema prisional. “Fui colocada na prisão de forma inocente. Depois, absolvida a pedido do Ministério Público, com pedido de desculpa. Aí começou meu comprometimento em ser uma militante ativa e denunciar os horrores que acontecem dentro da prisão”. Ana Paula lembra que muitas vezes os presos são silenciados e ameaçados, não denunciando as irregularidades e destaca a importância do trabalho da Frente nesse processo. “Na Frente entendemos que não existe luta sozinha temos que ter diálogo com outros poderes e instituições”.
Representando o Conselho da Comunidade de Rio Grande, na 5ª Região Penitenciária, Moisés Cravo integrante da Frente dos Coletivos reforçou o papel que a essa organização tem para o sistema prisional. “A Frente tem o intuito de cobrar o compromisso dos agentes penitenciários e diretores com o preso”. Para fortalecer esse trabalho ele acredita na importância de unir pessoas da comunidade, que não são familiares, para atuarem como voluntários.
A importância desse trabalho de fiscalização das condições oferecidas às pessoas privadas de liberdade foi ressaltada por Carla Stringari, de Horizontina, representante da Comissao Carcerária de Santa Rosa e integrante da Frente. “O que mais dói é a falta de sensibilidade dos agentes penitenciários. Não podemos aceitar esse descaso do Governo, oferecendo comida estragada, não se importando se tem comida ou não, negligenciando a necessidade de atendimento médico”.
Adrielle Barreta Ferreira, de Uruguaiana, fez um relato da situação atual do presídio da cidade. “Familiares foram impedidos de entregar sacolas com alimentos e kits de higiene na semana passada. Nós familiares tentamos contato com a direção da casa prisional, buscamos ajuda da mídia, mas recebemos muitas mensagens de ódio”. Também relatou que ventiladores e refrigeradores foram retirados das celas, apesar da onda de calor. “Somos criticados por sermos familiares de presos”, avaliou com tristeza.
Para a representante do CRPRS, Maynar Vorga, os movimentos sociais têm muito a aprender com a Frente. “Vocês conseguem pressionar e dialogar. Se estruturaram num dos momentos mais difíceis da humanidade, buscando aprender sobre leis, movimentos sociais, internet. É um movimento muito forte e potente. A sociedade coloca na prisão e no manicômio aquilo que não quer enxergar. Nesse processo, o familiar é invisibilizado junto. Ajudar a Frente é ajudar a pressionar por políticas públicas adequadas”.
No evento também foram apresentados vídeos de mostrando ações desenvolvidas pela Frente dos Coletivos Carcerários, disponíveis no Instagram e Facebook da organização.