Em 21/11 o CRPRS promoveu o evento on-line “Cannabis Terapêutica: o que a Psicologia tem a ver com isso” para discutir sobre a importância desse debate para a profissão. Organizada pelo GT Canábico do CRPRS, a atividade reuniu representantes dos Conselhos Regionais do Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais e foi conduzida pelo conselheiro Diego Gonçalo Moraes Gomes (CRP 07/21842), coordenador do GT, e pela conselheira tesoureira do CRPRS, Maria Luiza Diello (CRP 07/08488).
Na abertura do evento, Diego Gonçalo Moraes Gomes contextualizou a criação do GT no CRPRS, assumindo um compromisso ético e técnico frente à categoria para discutir sobre o uso da cannabis terapêutica. “Como psicólogas/os precisamos ter esse conhecimento e trazer isso para a categoria de uma forma ampla para que o debate não fique só nas ciências médicas”, avaliou. O conselheiro fez a leitura da carta de nascimento desse Grupo de Trabalho.
Na sequência, a conselheira Maria Luiza Diello ressaltou a necessidade de organização do GT Canábico como algo para além do uso da cannabis terapêutica. “Inventar o GT passa, para nós, pela produção de pensamento sobre as ecologias humanas, sociais, ambientais e políticas. E isso implica em pensar nos predatórios modos de vida que historicamente aprendemos, nos danosos modos de vida que se consolidam de forma tão radical. Passa por pensar o lugar e a atuação das Psicologias, na incidência técnica e profissional, nos mais diferentes existires, na vida das gentes com que trabalhamos. Implica em pensar todo o discurso proibicionista e estéril, relacionado a essa pauta”.
Anderson Matos (CRP 04/10.829), que é mestre em Psicologia (UFMG), conselheiro e coordenador da Comissão de Orientação em Psicologia e Tratamento com Cannabis Terapêutica do CRP-MG e psicólogo da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME), falou preconceitos e tabus relacionados a essa pauta e reforçou a necessidade da Psicologia estar inserida nesse debate. “Temos empatia, somos psicólogas/os e escutamos pessoas em sofrimento, em situações no limite da suportabilidade da dor de existir. Esse é um debate político, ético e necessário. A Psicologia precisa trabalhar na desconstrução do preconceito, orientar pacientes nas funções psíquicas e eventuais alterações que a maconha possa produzir”.
Representando o GT Maconha Psicodélicos do CRP-RJ, Marcia Rosane Bezerra Martins (CRP 05/66217), psicóloga clínica de abordagem psicanalítica que trabalha com a perspectiva de redução de danos em sua prática, relatou sobre sua aproximação com o CRP RJ buscando a organização do GT no Rio Janeiro. “Como trabalhar sobre o tema se nem sabemos o que categoria sabe e pensa?” a partir dessa reflexão foi feita uma pesquisa com a categoria sobre o tema. Os dados levantados estão em fase de análise, mas indicam um desconhecimento e embranquecimento acerca da temática. “Muitos indicam que há diferença entre maconha e cannabis, sendo a maconha associada a algo proibido e cercado de preconceitos”.
Fábio José Orsini Lopes (CRP 08/09877), professor do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM-PR), conselheiro titular do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas do Paraná (CONESD-PR), conselheiro do CRP-PR, membro do GT Psicologia, Cannabis e Psicodélicos do Conselho Federal de Psicologia, destacou a importância da Psicologia. “É preciso que a Psicologia se debruce sobre substancias psicoativas, entre elas a maconha. Essa realidade existe e é inegável: as pessoas fazem usos de canabis e derivados e tem diversos tipos de relação com ela. Psicólogas/os tem o dever técnico e ético de orientar, sob a perspectiva da atenção psicossocial, seguindo uma lógica antiproibicionista. Para isso, é preciso despatologizar e desestigmatizar o debate”. Fábio também citou a força do movimento organizado pelas/os usuárias/os, fazendo um paralelo com o movimento da luta antimanicomial, o modelo de saúde mental e de atenção psicossocial.
A atividade também contou com a participação de Matheus Almeida Hampe representando a Associação Cannábica Medicinal (ASCAMED), que integra o GT Canábico do CRPRS. A ASCAMED é primeira Associação Canábica Medicinal do Rio Grande do Sul e tem o objetivo de democratizar o acesso ao tratamento com cannabis, bem como amparar psicológica e juridicamente todas/os que necessitam de suporte para garantir seu acesso ao tratamento. A associação também age como pioneira no incentivo à pesquisa em Santa Maria.
Assista à gravação do evento na íntegra: