Psicólogos e estudantes lotaram na sexta-feira (9) o auditório do CRPRS para assistir à palestra “Psicoterapia como Pena”, apresentada pelo psicólogo carioca Pedro Paulo Bicalho. O palestrante relatou o cotidiano dos psicólogos nos órgãos policiais do Rio de Janeiro e fez diversos questionamentos sobre as práticas da psicoterapia no âmbito judicial.
“Por que algumas práticas da psicoterapia acabam funcionando como práticas de judicialização?”, questionou Bicalho. O psicólogo relatou que, em sua experiência como oficial psicólogo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sessões de psicoterapia eram impostas a determinados indivíduos sem questionar sua vontade em participar do tratamento.
O palestrante chamou a atenção para a necessidade dos psicólogos avaliarem suas práticas continuamente. Bicalho deu o exemplo do encaminhamento de menores aos conselhos tutelares: “Será que a categoria ‘família desestruturada’, da família não-nuclear, não é um conceito que naturalizamos? Talvez nossas práticas produzam determinados entendimentos sem que nos demos conta disso, e tais conceitos acabam funcionando como critérios de penalização”.
O psicólogo também relacionou o tema da palestra com a discussão da luta antimanicomial, ressaltando que a rede substitutiva de serviços não pode assumir o papel da penalização. “A reforma psiquiátrica não se resolve apenas com uma questão física. Não basta extinguir os manicômios, mas evitar que os espaços abertos que os substituam também obedeçam à lógica manicomial”, alertou.
Bicalho ainda chamou a atenção entre certas práticas dos profissionais e o reforço que podem trazer para o preconceito existente na sociedade, como a homofobia. “Nós, psicólogos, não matamos homossexuais, mas será que, ao incluirmos os homossexuais nas categorias da falta, perversão ou subdesenvolvimento, não estamos produzindo a exclusão desses indivíduos?”, provocou. Ao final da palestra, foi aberto espaço para perguntas e depoimentos de psicólogos e estudantes, possibilitando a troca de experiências entre os profissionais da categoria.