Psicólogos/as, estudantes de Psicologia e outros profissionais estiveram presentes no CRPRS na noite da última quarta-feira, 01/06, para participar do debate “Conversando sobre a violência na cidade”. De acordo com Mariana Allgayer, Conselheira e integrante da Comissão de Políticas Públicas do CRPRS, o evento foi organizado com o objetivo de debater a atuação de psicólogos/as em áreas violentas da cidade. “Nós recebemos essa demanda de profissionais que trabalham no sistema de saúde de Porto Alegre e que estavam vivenciando diversas situações de violência e de ameaças”, compartilhou, no início do evento.
“Nós temos pouca violência perto de tanta desigualdade que temos”. Esse é o parecer do psicólogo Rodrigo Lages, doutor em Psicologia pela UFF e professor na Faculdade de Educação da UFRGS. Durante sua fala, ele abordou as mudanças que vêm ocorrendo em Porto Alegre e no Brasil desde o anúncio de que o país seria sede de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que acontecem nesse ano. Ele afirma quea cidade de Porto Alegre vem sofrendo um processo de gentrificação, que busca um novo paradigma para as cidades. “Há muito tempo, sofremos um processo de higienização. Agora, o processo de gentrificação vem cobrando uma personalidade das cidades, enquanto empresa e objeto que tem que ter um valor. Isso limita o experimento do espaço urbano, que segue cada vez mais os princípios de acumulação de capital e de grandes eventos que chegam, se utilizam dos espaços e vão embora”.
Esse processo, de acordo com o professor, tem relação com a violência por conta da determinação de locais que devem ser protegidos, iluminados e revitalizados e locais que não interessam, que têm de ser vigiados pela polícia. Com relação ao trabalho de profissionais da saúde, ele afirmou que o impacto se dá a partir do estabelecimento de uma perspectiva de que algumas vidas importam e devem ser protegidas mais do que outras.
Para Jorge Broide, psicanalista, doutor em Psicologia Social pela PUCSP e professor do curso de pós-graduação lato-senso "Psicossociologia de Juventude e Políticas Públicas na Fundação Escola Sociologia e Política de São Paulo, quanto menor a atuação do estado, maior a violência. No evento, ele relatou como faz uso da Psicologia Clínica para atuar em territórios violentos, o que denomina de escuta territorial, e afirmou que o trabalho do/da psicólogo/a clínico é o de ouvir a diferença, independente do espaço. Para que esse tipo de trabalho possa ser desenvolvido, é necessário uma atuação conjunta: “Nós temos que aprender a criar novas situações de escuta e de atuação em territórios ditos violentos. Esse trabalho tem que ser feito de forma interdisciplinar, com a atuação em conjunto com profissionais da Antropologia, Economia, Geografia, entre outros”.
Já para Sandra Torossian, “a violência surge quando a malha que nos organiza se rompe em algum lugar. É uma malha de pactos, de socialização. A desigualdade social que nós vivemos nesse país é um desarranjo desse pacto e isso gera violências”. Sandra é psicóloga, doutora em Psicologia pela UFRGS e professora do departamento de Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia da UFRGS, programa de pós graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura. No debate, ela falou dos dois campos em que atua - o de pessoas que fazem uso e se relacionam com drogas e também do trabalho que ela desenvolve em parceria com outros profissionais na Vila São Pedro, popularmente conhecida por Cachorro Sentado, em Porto Alegre. “Essas experiências têm ensinado muitas coisas a nós psicanalistas e também têm nos feito questionar a psicanálise em muitos lugares”, apontou.
Na última parte do evento, os/as presentes trouxeram relatos sobre suas vivências e fizeram perguntas para os/as convidados/as, debatendo estratégias de atuação dos/das profissionais de Psicologia em territórios violentos.