Maio é o mês internacional pela segurança no trânsito e conscientização para redução de acidentes de trânsito. Diante da pandemia da Covid-19 e da recomendação ao isolamento social, o debate precisa de novos olhares e a Psicologia do Trânsito e da Mobilidade precisa pensar, por exemplo, os impactos sobre o acesso à mobilidade no funcionamento das políticas públicas, o trabalho dos transportes por aplicativo, o deslocamento em contexto de pandemia que podem ocasionar medo, estresse e ansiedade.
As integrantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), conselheiras Alessandra Almeida e Losiley Alves, falam sobre o papel da Psicologia e as contribuições das/os psicólogas/os do Trânsito diante deste cenário.
O que a Psicologia tem a ver com isso?
Para a conselheira Alessandra Almeida, a Psicologia do Trânsito é importante por dialogar tanto com outras áreas da Psicologia, como também discutir comportamento, espaço urbano, estudar o autocuidado, o cuidado com o próximo e com a cidadania, e próprio conceito de sujeito situado. “Temos um papel fundamental inclusive na organização dos espaços urbanos e nos conflitos que se expressam nesses espaços”, complementa.
Losiley Alves corrobora com Alessandra, destacando a contribuição recente do Sistema Conselhos de Psicologia com a edição da Resolução CFP 01/2019, que Institui normas e procedimentos para a perícia psicológica no contexto do trânsito. Segundo ela, a referida normativa auxilia a/o psicóloga/o especialista a investigar quais são as habilidades mínimas exigidas para uma condução segura veicular, bem como os aspectos cognitivos e os fenômenos psicológicos da atenção e da memória e da inteligência, além de investigar o funcionamento do juízo crítico, do comportamento. “Tudo isso visando sempre entender qual seria esse perfil de condução segura, bem como investigar alguns traços de personalidade que nos é sinalizado a necessidade de investigar os níveis de impulsividade, de agressividade e de ansiedade”, reforça.
Com o tema “Perceba o risco. Proteja a vida”, o mês pela segurança do trânsito de 2020 aponta para que a Psicologia contribua no sentido de possibilitar subsídios, debates e reflexões sobre a tomada da consciência do indivíduo, afirma Alessandra. A conselheira do CFP destaca que é importante fazer um recorte de gênero e raça, que pode parecer invisível, mas estão bastante inserido no contexto socioeconômico do Brasil. “Há também um recorte machista nesse país, que, no trânsito, promove a ideia da virilidade e da força, do agir impulsivamente, na criação dos nossos meninos, então isso é uma questão da Psicologia”, complementa.
A conselheira Losiley diz que as relações dos indivíduos com o trânsito afetam outros atores como família, amigos, trabalho. “Por exemplo, em 2019, morreram 5.332 pessoas nas estradas do país. Podemos pensar em 5.332 famílias que foram afetadas diretamente, sem contar as outras relações”, justifica. Para ela, o mote da campanha visa a buscar estratégias de prevenção, citando abordagem dada durante o 13º Congresso Brasileiro de Medicina de Tráfego e do 2º Congresso Brasileiro de Psicologia de Tráfego, realizado em setembro de 2019, em Brasília. “O grande causador de acidentes de trânsito, segundo essas estatísticas, são os comportamentos humanos. A Psicologia nesse contexto está nos desafiando frente a essa demanda, nos convidando a termos uma atuação com foco na prioridade a proteção à vida, percebendo e desenvolvendo atividades, que visam a prevenção de acidentes”, reforça.
Contexto da pandemia da Covid-19
Ao levar em consideração o contexto da pandemia do novo coronavírus, a conselheira Losiley Alves destaca que o deslocamento neste cenário se torna ainda mais opressor devido à necessidade de isolamento social, aflorando sentimentos como angústia, tristeza, stress, negação.
Por isso, para Alessandra Almeida, a Psicologia do Trânsito precisa pensar em vários contextos para além do trânsito, especialmente neste momento de pandemia. Como o acesso à mobilidade no socorro a mulheres que estão quarentenadas e sofrendo violência; o impacto da correria e do medo sobre as pessoas que trabalham com transportes por aplicativo ou que fazem deliverys; o deslocamento de moradoras/es de rua nesse período, que se torna ainda mais difícil. “Isso diz respeito a Psicologia do Trânsito e da Mobilidade em geral. Os impactos das políticas públicas na Mobilidade e os impactos da mobilidade e do acesso à mobilidade no funcionamento das políticas públicas”, aponta Alessandra.
Já a conselheira Losiley destaca a oportunidade para se refletir o contexto violento do trânsito, apontando dados do Ministério da Saúde que indicam que os acidentes no trânsito ainda matam em média 114 pessoas por dia no Brasil. “Então sabemos que não são poucas as vítimas no trânsito. Outro fator que vale a pena refletir, com o avanço do isolamento, são mudanças de comportamento, e a Psicologia, enquanto ciência e profissão, nos oferece essa possibilidade de contribuir com a promoção da saúde e segurança no trânsito”, finaliza.
Saiba mais sobre Psicologia no Trânsito:
Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) em Políticas Públicas de Mobilidade Humana e Trânsito
Fonte: Conselho Federal de Psicologia