O Conselho Federal de Psicologia (CFP) disponibilizou na quarta-feira (16/10) para consulta pública o Documento de Referências Técnicas para Atuação de psicólogas (os) em Políticas Públicas sobre Álcool e Outras Drogas, durante debate online sobre o tema. O documento receberá contribuições durante 30 dias, e pode ser acessado no site do Crepop. O evento foi transmitido ao vivo pelo site do CFP e atingiu 2 mil pontos conectados em todo Brasil.
A conselheira Federal, Heloíza Massanaro, mediou o debate, que contou com a participação de especialistas da comissão responsável pela elaboração do documento, o psicólogo e representante do CFP no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), Marcus Vinícius de Oliveira, e a psicóloga e doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, Isabela Saraiva Queiroz.
Para os palestrantes, o problema das drogas no Brasil, especialmente o uso do crack, precisa de soluções que vão além do tratamento, como o acesso à informação, promoção da cidadania, bem como ações de educação e cultura – instrumentos capazes de alterar o comportamento de risco. Dados da Fiocruz divulgados este mês apontam que, no Brasil, existem aproximadamente 350 mil usuários de crack.
Com base nesse cenário, Marcus Vinícius de Oliveira afirmou que o papel da (o) psicóloga (o), que deverá ser evidenciado no documento que está em consulta pública, é delimitar uma posição de uma política mais realista em relação ao tema das drogas. “Devemos oferecer às equipes multiprofissionais a possibilidade de atuação com dependentes e usuários de uma forma mais justa, tomando a construção da relação com o sujeito como recurso principal para produzir interferências nas dinâmicas da sua existência”, sinalizou.
Oliveira ressaltou que a contribuição das referências técnicas estão sendo construídas de maneira democrática, com participação da categoria, e são fundamentais na melhoria da qualidade do acolhimento aos usuários e dependentes químicos. “São muitos aspectos que devem orientar a prática de cuidados, com tecnologias leves que levem em conta os múltiplos fatores que o tratamento deve ser oferecido. Não temos que tratar a desigualdade com aspectos meramente clínicos”, argumentou.
Já Isabela Saraiva alertou para a generalização do uso de drogas, que é sempre associada ao vício, sem levar em conta o enfrentamento da situação enxergando cada caso. Para ela, as referências técnicas irão implementar esse panorama com subsídios para que o psicólogo possa atuar e criar os meios de ação para um campo que vive em tensão moral.
“As pessoas tendem a associar o uso de drogas à dependência, sendo que existe um percurso que envolve uma complexidade enorme, como a questão de gênero, racial, socioeconômico e devemos estar atentos que a assunto é relacionado à estrutura social, não só à Psicologia”, disse Saraiva.
A psicóloga também falou sobre a ineficiência das internações compulsórias, e os limites da Psicologia nessas ações. “O que vemos é uma reclusão em massa que nem sempre é eficaz, porque o problema e a solução estão no entorno do usuário, na família, nos amigos, na sociedade.”, enfatizou.
Isabela Saraiva considera que o melhor tratamento para dependentes químicos existente no Brasil é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD), consultórios de rua, unidades de acolhimento, rede de cuidados em saúde e ações intersetoriais.
Ao final do debate, a conselheira Federal, Heloíza Massanaro, ressaltou que o CFP tem buscado ampliar a comunicação com a categoria em relação ao tema de álcool e drogas. Em 2011, foi produzido o 4º Relatório de Inspeção, que visitou 68 comunidades terapêuticas brasileiras denunciando agressões e violações aos direitos humanos.
A autarquia também promoveu debates; seminários, audiências públicas; produziu textos; acompanhou projetos de lei; criou um site sobre o assunto e articulou com parceiros para ampliar o debate nacional e produzir consciência política e envolvimento social da categoria. “Temos avançado bastante neste diálogo, mas precisamos melhorar muito ainda”, concluiu Massanaro.
Dados técnicos
As postagens do debate online no Facebook do CFP foram visualizadas por mais de 15 mil pessoas. Já a transmissão contou com 2 mil pontos de acesso conectados. Os debatedores receberam cerca de 70 perguntas enviadas por internautas de todo Brasil.
Fonte: www.cfp.org.br