Os povos originários estão ocupando cada vez mais espaços institucionais. No início de fevereiro, foi a vez da deputada federal Joenia Wapichana tomar posse como presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Pedro Paulo Bicalho, e a conselheira Nita Tuxá participaram da solenidade.
Órgão responsável pela política indigenista no país, a Funai está sob a liderança de uma indígena pela primeira vez. O ineditismo acontece também no CFP, com Nita Tuxá compondo o plenário como a primeira indígena psicóloga a integrar a gestão da entidade. A iniciativa é fruto do processo eleitoral realizado em 2022 para os Conselhos Regionais de Psicologia e para a Consulta Nacional CFP que passou a exigir nas candidaturas o cumprimento de percentual mínimo de cotas para povos tradicionais e indígenas, além de outros grupos.
O presidente do CFP evidenciou a importância do protagonismo dos povos originários em espaços institucionais, tal como já ocorre no CFP, e ressaltou a oportunidade de diálogo e de articulação. “A Psicologia brasileira tem como compromisso fundamental um cuidado integral e a promoção de direitos, o que também envolve reconhecer, garantir e promover as garantias dos povos originários”, ressalta.
Segundo a conselheira Nita Tuxá a presença de indígenas nos espaços institucionais “marca a retomada de direitos e o reconhecimento à capacidade de agência e protagonismo que nós detemos como povos originários deste país”.
A nova presidenta da Funai explicou que o caminho percorrido para chegar a esses espaços foi longo e muito sofrido. “Muitas vidas se perderam no caminho e ainda estão se perdendo. Passamos anos de desmonte, de sucateamento, de desvalorização dos servidores públicos”, declarou Joenia Wapichana.
Psicologia indígena
Ao falar sobre a aproximação da Psicologia com os povos originários, a conselheira Nita Tuxá destaca que esta é uma relação de ganho para ambos. “A Psicologia tem muito a aprender com os povos indígenas e seu pluralismo sociocultural – que demanda manejos também plurais de acolhimento e de oferta de políticas públicas. Por sua vez, os povos indígenas necessitam de cuidados para enfrentamento das tantas dores existenciais e sociais que carregam há mais de 500 anos e que ainda persistem”.
Ainda segundo Nita Tuxá, neste encontro de olhares “diálogos, escuta, silêncio e falas devem ser pautados para que a Psicologia possa se despir de suas práticas colonizadoras, advindas de outros códigos culturais e possam, juntamente com os povos indígenas, reconstruir uma Psicologia originária, feita com e para as coletividades dos Brasi’s”, conclui.
Ações do CFP
O fazer da Psicologia junto aos povos indígenas é tema que tem mobilizado cada vez mais atenção no Sistema Conselhos. Em 2022, o Conselho Federal de Psicologia lançou as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas junto aos Povos Indígenas, apontando a necessidade de um novo olhar para a história dos povos originários do país e para a priorização das políticas públicas para os povos indígenas.
Recentemente, diante da crise humanitária que atinge o povo Yanomami, o CFP destacou em documento a urgência de enfrentamento a todas as formas de violência e a necessidade de práticas profissionais que contemplem as especificidades dos povos indígenas.
Sobre o assunto, o Conselho realizou em 9 de fevereiro a live “Vidas Contaminadas: Mercúrio e Saúde da População Indígena”, sobre os efeitos da contaminação por mercúrio no desenvolvimento das pessoas. O metal pesado é usado indiscriminadamente nos rios amazônicos por garimpeiros para a extração de ouro nas áreas Yanomami.
Com Informações Agência Brasil e Funai
Fonte: Conselho Federal de Psicologia.