A conselheira e presidenta da Comissão de Psicoterapia do CRPRS, Miriam Alves, realizou na última sexta-feira, 01/11, uma capacitação para assistentes sociais do Cadastro Único (CAD) de Gravataí. O evento reuniu servidoras/es e tinha como tema o SUAS/relações raciais e escuta qualificada no CAD. Participaram também da capacitação o secretário da Secretaria Municipal da Família, Cidadania e Assistência Social do município, Tanrac Saldanha, a gestora do Bolsa Família de Gravataí Márcia Mello e o educador social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Luis Alberto Diaz (Olumide).
Na ocasião, Márcia Mello, gestora do Bolsa Família, apresentou os dados atualizados do CAD sobre a situação racial do município de Gravataí, dando ênfase às informações sobre o total de beneficiadas/os, o perfil das famílias, e o acompanhamento na saúde e na educação. Os processos de atualização cadastral realizados pelas/os assistentes sociais também foram abordados durante a fala inicial da gestora.
O educador social do CRAS Luis Alberto Diaz (Olumide) apresentou um material referente ao tema racial dentro da Política Nacional de Assistência Social, denominado de “SUAS sem Racismo”, lançado em 2017 na XI Conferência Nacional de Assistência Social. Luís Alberto destacou também a agenda 2030, onde a temática está dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
A conselheira e presidenta da Comissão de Psicoterapia do CRPRS, Miriam Alves, começou a sua fala citando alguns elementos para compreender os dados apresentados que reforçam a presença das desigualdades raciais no país. “No Brasil não é possível olhar para as desigualdades sociais sem olhar para as desigualdades raciais. Se não atacarmos essas duas dimensões, não conseguimos diminuir as desigualdades que os dados apresentam.”
Miriam citou também alguns conceitos para entender o racismo colonial e destacou o processo de colonização e a denominação da palavra negro pelo colonizador, além de falar sobre a contribuição da igreja católica na escravização deste povo. Além disso, traçou um panorama histórico de leis racistas do país com o objetivo de apresentar para as/os trabalhadoras/es presentes como as políticas de Estado produziram o genocídio da população negra ao longo da história do Brasil. “São elementos da história de constituição de um país que contribuíram para o estágio em que estamos em relação a várias políticas públicas, seja no acesso de Educação, de Saúde e de Assistência Social, por exemplo. As políticas de Estado nunca foram pensadas para essa população e, sim, pensadas a partir da branquitude, da lógica colonial e não olhando para este outro, pensando na inclusão.”
Na sequência, a conselheira falou sobre o conceito de escuta qualificada no campo da Assistência Social, explicando como o contexto histórico do racismo e os termos apresentados podem contribuir e transformar a escuta no atendimento a/ao usuária/o do CAD. “Mesmo que cada um diga que não é racista, se começarmos a perceber os diferentes movimentos, vamos perceber que todos aqui nessa sala são racistas, porque nós somos forjados por uma perspectiva ideológica de pensar as relações de forma racista, por isso dizemos que o racismo é estruturante na nossa sociedade. E qual é o modo de enfrentamento? Falar sobre isso, tratar disso e esse é o momento. Vamos tratar falando, se reconhecendo e se identificando enquanto tal e mudando as nossas práticas. Olhar para a Assistência Social e ver como ela é racista. É escutando e falando sobre isso que vocês vão poder mudar a prática no cotidiano.”
O processo de autodeclaração e a notificação do CAD, segundo Miriam, é fundamental para a construção das políticas públicas. “Perguntar para a pessoa como ela se autodeclara, qual é sua raça e cor, tendo em vista as cinco categorias do IBGE, é um compromisso de cada uma/um, um compromisso político no sentido de transformação da sociedade.”
Por fim, a conselheira respondeu a dúvidas das/os trabalhadoras/es em relação ao processo de trabalho, a autodeclaração da/o usuária/o, o privilégio social de ser branco e o lugar de fala, além de questionamentos sobre a ressignificação da palavra negro, a construção da identidade e o uso de palavras que reforçam o racismo.