Dando continuidade ao ciclo de debates “O Racismo Tem Dessas Coisas”, o Núcleo de Relações Raciais do CRPRS promoveu na quinta-feira, 28/03, na sede do Conselho, em Porto Alegre, debate sobre o racismo no gênero.
O debate teve início com a fala do estudante Phelipe Caetano da Silva, homem trans negro, militante e ativista nos assuntos de gênero, raça e direitos humanos. Phelipe apresentou o conceito da pirâmide do preconceito, marcada por sexismo e cor. Fez uma comparação da LGBTfobia com a escravidão, já que ambos não reconhecem a existência de um grupo ou consideram que sua existência afeta o outro. “Nesses processos há uma desumanização, uma tendência em querer ter poder sobre o outro. Há no Brasil um racismo estrutural que acaba sendo naturalizado. A estratégia para mudar isso é com o acolhimento, buscar entender, discutir”.
Representando o coletivo MILTons - Discussão de Masculinidades Negras, o psicólogo clínico Cainã Sá Britto do Nascimento, colaborador do grupo de pesquisa em relações Interpessoais e Violências (RIVI) da PUCRS, ressaltou a necessidade de os homens negros serem valorizados além de estereótipos. Segundo Cainã, há uma tendência desse grupo se mutilar para aliviar a dor, numa reprodução da violência que vivem e como forma de sobrevivência. Para ele, o homem negro é visto como propenso a matar e morrer e isso gera uma naturalização da violência contra ele. “Se homem é detentor de privilégio, homem negro teoricamente sairia na frente, pois fisicamente é considerado mais forte. Porém, está mais propenso a se machucar, a ficar doente. Trabalhar o autocuidado, resgatar o valor do homem negro, sua humanidade”, afirmou.
A sanitarista Daiana Santos, educadora social, ativista, mulher negra em movimento, trouxe sua experiência trabalhando com população em situação de rua, em sua grande maioria mulheres negras. Em sua fala destacou a existência de uma hierarquização do cuidado pela cor da pele. Ressaltou a importância da informação e o poder das palavras para mudar essa realidade. “Precisamos dar informação às pessoas para elas entendam quem são, onde estão e que lugar ocupam. Pessoas negras muitas vezes não sabem o que é racismo porque isso implica na sua condição de vida naquele momento”.
Encerrando as apresentações das/os convidadas/os, a educadora social Desirée Gomes Silva, idealizadora do projeto "O papel do educador negro na política de Assistência Social", citou a importância de se nomear muitas situações vividas como racismo e machismo. “Toda exposição que passamos tem nome, é machismo, racismo. Nomear isso dói. [...] Não temos poder de mudar a estrutura, mas podemos trabalhar nas microrrevoluções do dia a dia, adotando pequenos cuidados como andar sempre com um documento, por exemplo”.
A atividade foi mediada pela integrante do Núcleo de Relações Raciais do CRPRS Maine Alves Prates. Logo após as falas das/os convidadas/os, o debate foi aberto à participação do público.
O ciclo "O Racismo Tem Dessas Coisas" é uma iniciativa do Núcleo de Relações Raciais (NRR) do CRPRS e tem como objetivo promover a reflexão sobre estratégias de superação do racismo em diferentes campos de atuação da Psicologia, incluindo locais de trabalho, organizações, políticas públicas, formação, socioeducação, entre outros.
Os encontros são abertos a psicólogas/os, estudantes e ao público em geral.
Confira as próximas datas e temas do Ciclo de Debates “O racismo tem dessas coisas”, com encontros sempre às 18h:
• 25 de abril: O racismo tem dessas coisas na Educação
• 27 de junho: O racismo tem dessas coisas na Infância
• 25 de julho: O racismo tem dessas coisas na Imigração
Assista ao vídeo com gravação do evento no Canal do YouTube.