Na quarta-feira, 24/08, psicólogos/as que participaram da atividade “De braços abertos: disputando um projeto em defesa da vida” conheceram práticas exitosas no cuidado em liberdade de pessoas com uso problemático de drogas. O evento foi realizado na sede do CRPRS pela Comissão de Políticas Públicas.
A psicóloga Lumena Furtado, mestre em Saúde Pública pela USP e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, falou sobre o programa “De Braços Abertos”, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de São Paulo. O “De Braços Abertos” é um projeto intersecretarial que reúne 13 secretarias, para atender usuários de drogas em extrema vulnerabilidade social. A organização é feita de forma transversal e matricial, abrangendo Saúde, Assistência Social e Trabalho. O programa “atende atualmente 461 beneficiários e 33 crianças, filhos de beneficiários. Para garantir moradia aos usuários, a prefeitura firmou parcerias com hotéis da região. O tripé que sustenta o projeto é formado por moradia, alimentação e geração de renda. “A moradia é a porta de entrada no programa, pois acreditamos que com esse direito garantido, os usuários podem construir possibilidades de convívio, ajudando uns aos outros. Trabalhamos na construção de um projeto de cuidado baseado em conceitos de vínculo, singularidade, liberdade, autonomia dos sujeitos, respeito aos direitos humanos e liberdade”, explicou Lumena. O projeto terapêutico do “De Braços Abertos” trabalha com cada usuário a possibilidade de refazer seu projeto de vida, valorizando o diálogo e os acordos coletivos. Os técnicos do programa dão apoio à convivência nas moradias.
Outro destaque da iniciativa é a tenda, espaço aberto de acolhimento, apoio, que oferece processos de cuidado. Neste local acontecem diversas atividades culturais.
As frentes de trabalho que são oferecidas pelo programa valorizam a formação e a capacitação. “Iniciamos o projeto somente com a possibilidade de trabalho na varrição. Hoje há 12 frentes de trabalho. O nosso desafio agora é sair da possibilidade de trabalho com salário fixo e trabalhar com cooperativas na geração de renda”, afirmou Lumena.
Lumena apresentou alguns indicadores que mostram o sucesso do “De Braços Abertos”. De acordo com levantamento, mais de 84% reduziram o uso de drogas depois do ingresso no programa. Antes do programa, 64% dos beneficiários declararam passar o dia inteiro sob os efeitos das drogas. Após o ingresso no programa, 55% declararam ficar sob o feito das drogas pouco tempo no dia.
Representando a equipe Pintando Saúde – Consultório na Rua do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), a psicóloga Sílvia Regina Ramão e a assistente social Afrânnia Hemanuelly Castanho Duarte falaram sobre o trabalho que desenvolvem junto aos usuários de drogas. O Consultório na Rua oferece acesso à saúde, cuidados clínicos primários in loco, trabalhos preventivos, de promoção da saúde e estabelecem atividades lúdicas, esportiva, artístico-culturais. “Trabalhamos na potencialização da vida, constituindo redes de cuidados, ampliando acesso a serviços que existem no território”, explicou Silvia. Clínica ampliada, plano terapêutico singular – centrado na singularidade e autonomia do sujeito –, respeito ao modo de vida dos sujeitos, redução de danos, promoção de direitos humanos e da inclusão social e clínica peripatética são alguns princípios norteadores do projeto do GHC.
A conselheira Alexandra Ximendes, presidente da Comissão de Políticas Públicas do CRPRS, destacou a importância de ampliar o debate sobre formas de cuidado oferecidas aos usuários de drogas, para que os/as profissionais de saúde pensem em formas de cuidado dos usuários de drogas que preconizem a liberdade. Em julho, o CRPRS manifestou-se sobre o incêndio ocorrido em comunidade terapêutica em Arroio dos Ratos, reforçando a defesa das diretrizes das políticas nacionais para álcool e outras drogas que se baseiam no cuidado comunitário, em liberdade, na lógica da Redução de Danos, bem como na Lei n° 10.216 que norteia a Reforma Psiquiátrica no Brasil, cujos princípios contrariam qualquer serviço que viole a dignidade humana e confunda tratamento com privação de liberdade.
Em breve será divulgado no canal do CRPRS no YouTube.