A violência contra as mulheres e seus impactos interseccionais foi o tema do primeiro dia do Seminário para Rede de Proteção à Mulher, organizado pela Comissão Gestora da Subsede Serra do CRPRS e pelo Núcleo de Políticas Públicas da Subsede Serra, da Comissão de Políticas Públicas do CRPRS, em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Caxias do Sul (COMDIM). O Seminário tem o objetivo de abordar a temática da violência contra a mulher e todo o sofrimento psíquico presente nessa discussão e terá sequência na próxima quarta-feira, 09/12, às 19h.
Mediada por Janaína Dorigo dos Santos (CRP 07/23959), psicóloga e educadora social em Caxias do Sul, a atividade tratou dos desafios das Redes de Proteção no enfretamento do problema da violência contra mulheres, especialmente em tempos de pandemia, e na necessidade de se construir estratégias que considerem as especificidades das mulheres.
Cristina Schwarz (CRP 07/17014), presidenta da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, servidora da Defensoria Pública do Estado do RS, iniciou sua fala apresentando alguns números que levam a uma reflexão sobre o que está em jogo quando se fala sobre violência contra mulheres. Entre 2007 e 2017, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o assassinato de mulheres negras subiu 29%, enquanto o de mulheres não negras diminui 4,5%; os assassinatos dentro de casa subiram 17%; o uso de armas de fogo dentro de casa subiu 28,7%. O Rio Grande do Sul representou 8% dos feminicídios de todo o Brasil em 2018, em uma média de um feminicídio a cada três dias. Em 2020 já tivemos 631 feminicídios, número muito superior ao do ano passado. “Como as politicas públicas, sociedade e Estado se organizaram para conter, gerenciar e enfrentar esse aumento da violência? A violência contra a mulher não é pandemia que já dura décadas ou séculos? Por que a sociedade não se mobiliza para acabar com essa violência?”, questiona.
Cristina ressalta que a violência não atinge todas as mulheres da mesma forma, estando muito ligada a marcadores sociais, ou seja, a condição dessas mulheres nas relações sociais. Para a convidada, por vivermos em uma sociedade marcada pelo patriarcado e pelo capitalismo, constrói-se um sistema que oprime as mulheres e se fortalece o conceito de família aliado ao conservadorismo. “Há uma crescente violência estrutural para as mulheres e a violência doméstica é apenas uma dessas manifestações. As mulheres sofrem outras violências de gênero atreladas a outras opressões, em diversos âmbitos da vida, que estruturam nossa sociedade”, destacou.
Sandra Beatriz Morais da Silveira, educadora popular, feminista negra e ativista em Direitos Humanos, reforçou essa necessidade de se considerar a diversidade quando se fala em violência contra mulheres. “Esse momento de confinamento social imposto pela pandemia despiu uma realidade muito cruel em que milhares de mulheres, das mais variadas faixas etárias, vivem”. Para Sandra, é preocupante o fato de muitas estarem submetidas a situações de tortura. Por ser um fenômeno dinâmico e multifacetado, ao se discutir sobre violência contra as mulheres é preciso observar todos nuances relacionados a essa questão. “Há um segmento da sociedade que não é considerado detentor de direitos. No dia a dia, na relação social, inclusive institucional, vivem uma realidade bem diferenciada. Por isso, as políticas universais, como estão constituídas, não dão conta de vários segmentos da população, não olham para condições que dispõem para acessar esses serviços. Não consideram toda a diversidade existente. Estamos todos na mesma tempestade, mas em barcos diferentes”, explicou.
Sandra finalizou ressaltando que os tempos atuais trazem novos desafios no enfrentamento da violência domestica. “Temos que dialogar, compartilhar e pensarmos juntas alternativas. Essa é uma exigência do momento, da conjuntura, qualquer ação de mudança deve vir do coletivo. Individualmente sobreviemos, mas queremos mais que isso. Sobreviver com dignidade, ter direitos respeitos e sermos o que quisermos”, concluiu.
Na quarta-feira, 09/12, às 19h, o Seminário para Rede de Proteção à Mulher terá continuidade com a mesa “O manejo do trabalho com a mulher em situação de violência: passes e impasses“. Quem se inscreveu para o dia 02/12 não precisa fazer nova inscrição.
Assista ao vídeo com a íntegra do debate “A violência contra as mulheres e seus impactos interseccionais” realizado em 02/12.