Na manhã de quinta-feira, 30/09, foi ao ar mais uma edição do projeto CRPRS na Rádio que, desta vez, discutiu sobre o tema “Psicologia no Sistema Prisional”. O programa, organizado pela Subsede Sul do Conselho, é exibido mensalmente pela RádioCom de Pelotas e tem como principal objetivo discutir assuntos pertinentes à categoria.
Mediada pelo psicólogo José Ricardo Kreutz, conselheiro suplente do CRPRS e coordenador do curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), a edição contou com a participação da vice-presidenta do CRPRS, Maynar Vorga, coordenadora do Núcleo do Sistema Prisional da Sede do Conselho, mestra e doutoranda em Psicologia Social e Institucional.
Para José Ricardo, o conceito de Psicologia no ambiente prisional não é fácil de ser construído entre as pessoas de modo geral, embora a intervenção de psicólogas/os no Sistema Prisional seja cada vez mais demandada. “A gente pode achar que é uma contradição a categoria ter um campo de atuação também no Sistema Prisional, por ser uma área que pareça distante daquilo que é dado como a ‘vocação’ da Psicologia, de trabalhar com a clínica”, introduziu.
“A/o psicóloga/o não vai fazer uma terapia com cada preso”, destacou Maynar ao explicar que o trabalho da/o profissional de Psicologia dentro do presídio é amplo e, de acordo com a nota técnica do Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicada 2020, pode variar, desde uma escuta qualificada até outras ações, como, por exemplo, de facilitar, por meios legais, o contato com as famílias e, se necessário, acionar redes de saúde e assistência social, buscar notícias dos parentes e garantir acessos a direitos, como o jurídico e de confecção de documentos. “Às vezes, o que é o mínimo para nós, para eles, lá dentro, é muito.”
Com o intuito de aprofundar o entendimento dos ouvintes sobre essa área de atuação da Psicologia, Maynar fez algumas leituras, durante o programa, do que seria o ambiente prisional, hoje, no Brasil, e quais os desafios enfrentados. “Tudo aquilo que a sociedade não consegue lidar por diversos motivos, por falta de políticas públicas, por preconceito, racismo estrutural, e desigualdade, se encontra na prisão. Muitas vezes, inclusive, a primeira política pública que chega em uma pessoa é a polícia para prender.” Ela aponta, ainda, que as cadeias foram pensadas para homens e que, por isso, há tantos registros de presas tendo que usar miolo de pão, porque não possuem acesso a absorventes.
Para falar sobre o sentimento de estar preso, a vice-presidenta salientou que a/o psicóloga/o atuante no Sistema Prisional não pode perder de vista o fato de que a pessoa presa está em sofrimento psíquico. “Independentemente da nossa ideologia e da gente concordar com o aprisionamento ou não, precisamos partir do pressuposto de que estar preso é uma coisa ruim. E é nosso papel auxiliar a pessoa a lidar com esse sofrimento e tentar reduzi-lo”, considerou Maynar ao lembrar dos efeitos psicológicos causados pelo aprisionamento que os presos estão expostos. ”Imagine você ficar trancado na sua casa, com todas as tuas coisas, televisão, celular, internet, mas não poder sair. Na primeira semana, você acha uma maravilha, dorme, assiste filme e etc. Na segunda semana, começa a ficar entediado nervoso. E, na terceira, você briga para sair. Agora mudamos isso para uma condição de estar com pessoas estranhas, em situação de super lotação, com carência de várias coisas e, realmente, sem saber quando irá sair. Porque é fato: de 30 a 40% dos presos no Brasil são provisórios, ou seja, que ainda não passaram por um julgamento. A pessoa pode passar dois, três anos sem saber se vai continuar presa e por quanto tempo.”
O programa convidou o ouvinte a refletir sobre a lógica dos presídios. “Pensamos: o que a sociedade está fazendo quando, cada vez mais, encarcera sua população? Quais as consequências disso? A Maynar propôs um exercício muito pouco feito, que é o de mergulhar no sentimento de quem está preso e o de se questionar o que isso tudo representa”, defendeu Ricardo.
Confira a edição completa na íntegra: