O CRPRS participou, na manhã desta sexta-feira, 17/09, do programa Saúde na Roda, do canal CDD Crônicos do Dia a Dia, no YouTube, para discutir sobre o serviço de atendimento à saúde mental no país, por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Alusiva à campanha do Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, a atividade contou com a participação da conselheira do CRPRS Luciana Fossi, que compartilhou sua experiência com o tema, a partir de sua atuação como coordenadora de Saúde Mental do município de Dois Irmãos.
A RAPS faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e é composta por serviços voltados a atender pessoas em sofrimento psíquico ou que fazem uso abusivo de álcool e de outras drogas. Instituída pelo Decreto 7.508 de 2011, a Rede se baseia na Reforma Psiquiátrica Brasileira, de 1990, que é pensada a partir do processo de desistitucionalização dos hospitais psiquiátricos antigos, garantindo a preservação dos direitos de individualidade de qualquer cidadã/ão que necessite desses cuidados em saúde mental.
“Eu atuo no município de Dois Irmãos, com 30 mil habitantes, e acredito que é fundamental, principalmente em cidades de pequeno e médio porte, que a Rede seja capilarizada o máximo possível, ou seja, que haja um envolvimento de toda a atenção básica para esse serviço. A RAPS tem que ser ampla, é a escola, é o posto de saúde, é a associação do bairro, associações das igrejas, as pequenas comunidades, os grupos de artesãs e etc. O nosso trabalho é superar a lógica de que só o especialista sabe e pode atender saúde mental”, introduziu Luciana ao lembrar que a Reforma Psiquiátrica acontece, também, com a desinstitucionalização dos saberes e das práticas.
“Se eu continuar achando que é só a/o psiquiatra ou a/o psicóloga/o que sabe sobre saúde mental e não apostar, por exemplo, no vínculo da agente comunitária de saúde, que conhece determinada família e que está me dizendo ‘Olha Luciana, aquela moça que ganhou o bebê está muito diferente, alguma coisa está acontecendo’, a gente não vai conseguir realizar o trabalho. Poder contar com esses outros saberes é muito precioso, porque é o saber do vínculo, do território de alguém que realmente vive o cotidiano daquela comunidade. Quanto mais a gente conseguir se articular em diferentes frentes e não só em enrijecidos dispositivos de saúde, mais a gente produz saúde mental no território”, salientou.
Mediado por Camila Tuchlinski, o programa contou, ainda, com a participação da psicóloga Fernanda da Guia, especialista em Saúde Pública e integrante da Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde – CISM/CNS. “Lembrando que quando falamos de sofrimento psíquico, nós, enquanto atenção psicossocial, levamos em conta sempre que estamos convivendo em sociedade, em um contexto. A nossa vida é feita de várias relações e transita por várias instituições, por isso, na hora de produzir o cuidado, contamos com toda essa rede”, frisou Fernanda.
Frente às demandas psicológicas no contexto da pandemia e da campanha do Setembro Amarelo, Luciana Fossi explicou que o trabalho na Rede se intensificou, principalmente, diante dos problemas atuais de vulnerabilidade, isolamento social e de luto pandêmico. “Temos recebido muitas/os adolescentes deprimidas/os, sem perspectiva de futuro, sem esperança e projetos. Mas, também, há demandas providas da pandemia que estão em um nível para muito além do sofrimento pelo isolamento. Famílias que, antes, tinham condições de vida relativamente estável, hoje, já não estão mais conseguindo comprar alimentos para o mês inteiro, precisando acessar a Assistência Social para buscar cesta básica. Isso tudo, obviamente, produz muitas questões de saúde mental, para além do diagnóstico”.
“O mais importante ao atendermos a pessoa em sofrimento psíquico é ouvi-la. Para você fazer a atenção psicossocial tem que entender que a capacidade mais necessária é a de dialogar e conversar, para que a equipe consiga ajudar aquela situação que se apresenta no momento”, completou Fernanda.
O programa foi transmitido pelo YouTube e está disponível para ser acessado.
Confira toda a discussão na íntegra: