O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS) formalizou um pedido público de desculpas à comunidade LGBT pelos erros da profissão no passado, durante evento realizado na sexta-feira, 05/07, no auditório do CRP, em Porto Alegre. A atividade “50 anos de Orgulho LGBT: Psicologia e movimentos sociais por uma sociedade mais diversa” foi promovida pela Comissão de Direitos Humanos do CRPRS em alusão ao Dia do Orgulho LGBT, comemorado em 28 de junho.
No evento, representantes de ONGs e Movimentos LGBTs mais antigos e representativos do estado foram homenageados: Marcelly Malta (Igualdade), Célio Golin (Nuances) e Ana Naiara Malavolta Saupe (militante lésbica). A presidente do CRPRS, Silvana de Oliveira, abriu a atividade destacando a importância do tema para a atual gestão.
Historicamente a Psicologia foi uma das responsáveis pela discriminação das pessoas LGBT, por oferecer explicações infundadas para a origem da diversidade sexual e de gênero, técnicas de avaliação que buscavam restringir a identidade das pessoas LGBT e terapias que tentavam curar aquilo que, hoje se sabe, não é uma doença. “A Psicologia tem uma triste marca em sua história: a de ter sido uma das responsáveis pela discriminação e vulnerabilização das pessoas LGBT ao longo do século XX, negligenciando seus reais problemas. Foram movimentos sociais, de dentro e principalmente de fora da Psicologia, que pautaram uma mudança significativa de percurso”, afirmou o conselheiro Angelo Brandelli Costa, representando a Comissão de Direitos Humanos.
Hoje a Psicologia se dedica a remediar os impactos negativos na saúde mental, fruto do preconceito, a garantir o acesso das pessoas trans, por exemplo, aos procedimentos médicos de modificação do corpo e mudança de nome e gênero nos registros civis, além de implementar políticas para esses grupos, e promover, um discurso público que afirme que todos são livres para viver sua sexualidade, seu gênero, e seus prazeres, livres de qualquer tutela.
No Sistema Conselhos de Psicologia há a possibilidade de identificação do nome social e identidade de gênero diferente da designada no nascimento nos registros. Além disso, há Resoluções que proíbem terapias reparativas da orientação sexual e da diversidade de gênero.
Homenageados
Como uma forma de homenagear alguns personagens dessa história de luta pelos direitos da população LGBT e oferecer um pedido público de desculpas, o CRPRS prestou homenagem às/aos seguintes militantes:
- Marcelly Malta
Presidente da ONG Igualdade RS, vice-presidente nacional da Rede Trans Brasil. Em 1999, fundou a ONG Igualdade para atuar em prol dos direitos das travestis em transexuais. Dentre os principais trabalhos coordenados pela Igualdade destaca-se a Galeria na Cadeia Pública de Porto Alegre específica para travestis e transexuais. Formada em enfermagem, já nas décadas de 1970 e 1980 atuava no cuidado em saúde e prevenção do HIV/AIDS junto as populações travestis e transexuais, especialmente no contexto do trabalho sexual na rua. Marcelly representa uma parte fundamental da história viva do movimento LGBT no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Em sua fala, Marcelly estendeu a homenagem a toda população de travestis e trans vítimas de violência.
- Célio Golin
Natural de Nonoai, se formou em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas, onde começou a participar de movimento em prol da causa LGBT. Em Porto Alegre, foi um dos fundadores do Nuances, grupo pela livre expressão sexual em 1991. O Nuances foi O PRIMEIRO e ainda é um dos mais atuantes GRUPO LGBT DO RIO GRANDE DO SUL. Das primeiras Paradas Livres à equiparação de direitos entre casais heterossexuais e homossexuais junto ao INSS, há 28 anos o Grupo Nuances atua em prol da garantia de direitos à população LGBT, através de ações no campo da saúde, esporte, cultura, e principalmente, ao direito ao prazer livre de qualquer tutela.
Célio lembrou da história do movimento LGBT, em que homossexuais eram internados em hospitais psiquiátricos, e destacou a importância de contar com a ciência, como a Psicologia, para a mudança de paradigmas.
- Ana Naiara Malavolta Saupe
Natural de São Borja, Graduada em Gestão de TI. Militante lésbica feminista da Marcha Mundial das Mulheres e do Núcleo de Diversidade Sexual Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal. (NUDS - SINTRAJUFE-RS). Foi Articuladora Estadual da Liga Brasileira Lésbica. Fundadora do Fórum Gaúcho em Defesa das Liberdades Laicas e do Conselho Municipal das Liberdades Religiosas. Técnica Judiciária da Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicações do TRT4, idealizou o Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT4.
No evento, Ana Naiara ressaltou a vulnerabilidade da população lésbica que sofre com o elevado número de casos de suicídio.
Dia do Orgulho LGBT
O Dia do Orgulho LGBT teve origem em Nova Iorque há 50 anos, com a Revolta de Stonewall, em que membros da comunidade se manifestaram contra a polícia que tentou ocupar o bar de mesmo nome. Essa foi considerada a primeira manifestação pelo orgulho LGBT da história moderna e disparou movimentos que ainda ecoam pelo mundo.