Em continuidade ao “Seminário Relações Raciais: referências técnicas para atuação de psicólogas/os”, realizado em novembro de 2020, o CRPRS iniciou, na última quarta-feira, 07/07, às 19h, o segundo módulo do evento. A atividade tem duração de três dias e, na noite de ontem, o Conselho propôs uma discussão acerca do enfrentamento político ao racismo.
Representando o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), a conselheira do CRPRS Carla Tomasi destacou, durante a conversa, que o seminário foi organizado a partir do documento de referência técnica, lançado em 2017, acerca da atuação de psicólogas/os diante do tema de relações raciais. “Esse documento, em específico, junto com a Resolução nº 18/2002 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), estabelece um conjunto de normas para a prática da categoria no combate ao racismo e assume um compromisso da Psicologia com a superação dessas questões.”
O evento, organizado pela Comissão de Relações Étnico-Raciais, foi mediado pela estagiária do CREPOP, Thayna Miranda, e contou com a participação de três convidadas/os especiais, além da colaboração de organizações importantes para o movimento negro no país, como a Assembleia Nacional da Articulação de Psicólogas/os Negras/os e Pesquisadoras/es (ANPSINEP), Associação Brasileira em Psicologia Social e Institucional (ABRAPSO) e a Comissão Permanente de Combate ao Racismo Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o convidado Robenilson Moura Barreto (CRP 23/1663), coordenador regional da ANPSINEP - Região Norte, a principal questão do debate está entre a relação da Psicologia com o movimento negro. “Toda a construção identitária do povo negro é coletiva, ao contrário da Psicologia, que é, historicamente, construída a partir do individual, da subjetividade, de processos internos. Temos uma relação entre coletivo e individualidade que precisamos romper, por isso, há muito tempo, o movimento negro tem nos convocando e questionando acerca das nossas contribuições, como psicólogas/os, para o enfrentamento do racismo”, introduziu Robenilson. Segundo ele, a Psicologia precisa repensar seus estudos, desde a graduação, e deixar de contemplar somente exemplos e teorias de europeus, assim, conseguirá entender e ter uma melhor atuação diante de sofrimentos de pessoas descendentes de povos que foram colonizados. “Precisamos de uma Psicologia que corresponda à América Latina e, principalmente, à realidade do Brasil. A nossa Psicologia nasce com suas epistemologias eurocentradas, machistas, brancas e que pensa, em alguns recortes, ainda, sujeitos de formas particularizada e individualizada.”
“É fundamental que a Psicologia e outras instituições que tratam da saúde mental incorporem a discussão dos entrelaçamento das relações raciais com outras mais concretas e objetivas, uma vez que ambas se reforçam mutuamente para funcionar como potencializadoras da reprodução do racismo”, explicou a convidada Sônia Beatriz dos Santos, professora adjunta da Faculdade de Educação/UERJ.
A professora citou, no decorrer de sua fala, trechos de autores sobre Psicologia Social e racismo. “A psicologia brasileira é uma área que teria muito a contribuir na produção do conhecimento sobre o racismo e suas consequências na estrutura psíquica, tanto dos indivíduos vítimas como dos discriminadores”. Para Sônia, o preconceito é um fenômeno de grande complexidade, “por isso costumamos compará-lo a um iceberg, cuja parte visível corresponderia às manifestações de preconceito, tais como as praticas discriminatórias e todo o processo de violência e opressão que é recorrente ainda hoje”, completou ao fazer referência às discussões necessárias sobre racismo estrutural e a herança colonial escravocrata do Brasil.“
A pessoa com sofrimento psíquico, vitima do racismo, merece atenção de uma ciência psicológica, tanto como plano individual, sob o olhar de uma Psicologia Clínica, como no plano coletivo, sob o olhar de uma Psicologia Social”, reiterou.
A convidada Maria Conceição Costa (CRP 07/210078 ), coordenadora geral da ANPSINEP, destacou que “precisamos estudar a colonização, o racismo, o machismo, o patriarcado e como tudo isso incide na vida das pessoas e no adoecimento de brancos e negros, de homens e de mulheres. É preciso analisar conceitos a partir da realidade de todos, não só de recortes.” A representante da ANPSINEP salientou, também, que a história dos negros no Brasil ainda está silenciada em todas as esferas da sociedade, inclusive no ensino fundamental e médio do Brasil. “O fato é que na historiografia oficial do país não temos essa histórias contadas, a gente tem resgatado muito pelo movimento social negro.”
“O movimento negro está em uma área entre o campo da saúde e das humanidades. Pensando nesse movimento como educador, o que os cursos de formação de professores sabem e discutem sobre esse movimento social e suas demandas por educação?”, indagou Sônia, ao lembrar que a Resolução CNE/CP nº 1, de 17/06/2004, que institui diretrizes curriculares nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de historia e cultura afro-brasileira e africana, ainda não é seguida a risca pelas escolas.
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Vem aí o 11º CNP
O “Seminário Relações Raciais: referências técnicas para atuação de psicólogas/os - Modulo II” já foi considerado um evento preparatório para as etapas que antecedem o 11º Congresso Nacional da Psicologia (CNP), instância máxima em que são discutidas e deliberadas políticas prioritárias para os próximos anos, ou seja, para as próximas gestões dos Conselhos Regionais e do Federal.
O 11º CNP será realizado pelo Conselho Federal de Psicologia de 2 a 5 de junho de 2022 e terá como tema “O Impacto Psicossocial da Pandemia: Desafios e Compromissos para a Psicologia Brasileira Frente às Desigualdades Sociais”. Para participar é preciso ter sido eleita/o delegada/o nos Congressos Regionais da Psicologia (Coreps), que serão realizados entre 18 de março e 17 de abril de 2022. Os Coreps reúnem as/os representantes que foram eleitas/os nos Pré-Congressos, que acontecem entre 30 de setembro de 2021 a 28 de janeiro de 2022.
Fiquem atentas/os à agenda dos Pré-Congressos que serão promovidos pelo CRPRS e participem!