A Comissão de Processos Clínicos e Psicossociais do CRPRS lançou na noite de segunda-feira, 13/12, a coletânea “Gestos, Memórias e Narrativas da Escuta Clínica Permeada pela Tecnologia da Informação e da Comunicação”.
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A publicação reúne relatos de experiências acerca da reinvenção das práticas da escuta clínica no contexto da pandemia, do distanciamento físico e da consequente adaptação das ferramentas de trabalho em diferentes espaços de cuidado em saúde mental, sejam públicos ou privados. As cartas foram submetidas para avaliação por meio de Edital de Chamamento Público lançado pelo CRPRS em 01/06/2021 e selecionadas seguindo critérios de originalidade, escrita em primeira pessoa a partir de uma narrativa pessoal e qualidade da escrita.
A conselheira presidenta da Comissão, Miriam Alves, fez a abertura da atividade de lançamento falando do processo de organização da coletânea, resgatando sentimentos, percepções e vivências do percurso até o resultado final desse trabalho. Miriam fez a leitura de trechos da carta de apresentação da coletânea. “Compartilhamos, por meio da palavra escrita e falada, alguns dos questionamentos, afetos sentimentos vividos pelos integrantes dessa Comissão sobre o viver, o existir, o gingar e o subverter na pandemia da Covid-19. E, especialmente, sobre os deslocamentos vividos no que tange a escuta Clínica Permeada pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação”.
A conselheira vice-presidenta do CRPRS, Maynar Vorga, parabenizou a Comissão pelo trabalho e saudou a todas/os que contribuíram enviando suas cartas. “É de muita sabedoria e sensibilidade essa iniciativa de resgatar o formato de cartas, em um momento tão peculiar em que vivemos, e perceber nelas marcadores de raça, classe e gênero tão fortes”.
A atividade contou com a participação de Chrystian da Rosa Kroeff (CRP 07/25302), Euge Helyantus Stumm (CRP 07/352060), Veronica da Silva Ezequiel (CRP 07/24825) e Ademiel de Sant’Anna Junior (CRP 07/22834), autoras/es de algumas das cartas selecionadas, que relataram detalhes do processo de criação dos textos. As cartas da coletânea falam de forma afetiva de questões que estiveram presentes na atuação de muitas/os psicólogas/os desde o início da pandemia. Tratam do tempo (cronológico, espiralar), das reinvenções necessárias, dos desafios, da morte, da dor, da saudade, da perda de referências, da necessária reconstituição e ressignificação de corpos e vidas.
Chrystian da Rosa Kroeff, em sua carta, coloca os desafios na adaptação do formato de atendimento presencial para o on-line, especialmente para crianças, e reflete sobre o “se fazer presente”, “se fazer entender” e a "perda de conexão” entre psicólogas/os e pacientes.
Euge faz uma analogia entre a Psicologia e a pirataria. Desde a necessária adaptação do setting, em que “teve-se de piratear a clínica, a começar por sua anatomia espacial”, passando pela anatomia das pessoas, ao pensarmos na atuação por meio de dispositivos digitais, até a quebra da lógica de uma Psicologia colonial, “um compromisso pirata no sentido de uma Psicologia capaz de repensar a si própria, no sentido de pirataria como a violação do direito colonial”.
Veronica, de maneira afetiva, fala da relação de mãe e filha e da necessidade de transformar o espaço físico de dentro de casa em um lugar de atendimento. “... nosso lar se fez espaço de escuta. Não foi fácil, tivemos de rever uma porção de coisas. Como quem abre uma caixa sem saber direito o que procurar. Era importante, necessário e acho que temos nos saído bem”.
Já Ademiel de Sant’Anna Junior traz, com potência e força, como as desigualdades, de classe, raça e gênero no Brasil foram reforçadas com a pandemia. “São intersecções estratégicas de perpetuação do poder em mãos brancas e sujas do sangue que escorrem de nossa corpa/o preta/o”. (...) Faço desta carta manifesto e afirmação, advertindo que mesmo que tentem nos silenciar, nossas vozes, nossas histórias não se encerrarão em nós”.
Diego Gonçalo Moraes Gomes (CRP 07/21842), integrante da Comissão Organizadora e coordenador do Núcleo de Processos Clínicos e Psicossociais da Subsede Centro-Oeste do CRPRS, destacou a importância do afeto nessas cartas selecionadas. Outras/os autoras/es presentes no evento também puderam compartilhar suas experiências após as falas das/os convidadas/os. O evento contou com a participação da conselheira secretária, Eliana Bortolon, e da conselheira Alice Ubatuba de Faria, integrante da Comissão que selecionou as cartas.
No encerramento, a conselheira Miriam sinalizou a perspectiva e o desejo de organização de uma segunda edição desse projeto.
Assista ao evento de lançamento na íntegra: