Discutir conceitos sobre inclusão e acessibilidade e de que forma a Psicologia se relaciona com esses temas foi o objetivo do evento “Inclusão, acessibilidade e a Psicologia” realizado em 28/08 na sede do CRPRS, em Porto Alegre. A pauta da acessibilidade é prioridade para a atual gestão do CRPRS. “Agendamos essa atividade para encerrar a Semana da Pessoa com Deficiência e as comemorações pelo Dia da/o Psicóloga/o. O objetivo é organizar um Grupo de Trabalho composto pela categoria para pensar nessas questões”, explicou a conselheira Mariane Teixeira Netto Rodrigues, representante do CRPRS no Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Coepede), na abertura do evento.
Mariane apresentou a evolução histórica de conceitos de exclusão, segregação, integração e inclusão. “Passamos por um período de segregação, com as escolas especiais, por exemplo. Com o tempo, a sociedade percebeu que não basta integrar o sujeito, é preciso incluí-lo e o ambiente tem que ser favorável. Para que isso aconteça, precisamos romper barreiras”.
Para o psicólogo André Martins Campelo, que tem deficiência visual, a inclusão social surge a partir de um conjunto de ações que garantem a participação igualitária de todos na sociedade. Para ele, ainda avançamos lentamente no processo de inclusão. “A deficiência e os fatores que geram barreiras em nossa sociedade ainda precisam ser dirimidos por leis”. Ainda, segundo André, do ponto de vista da Psicologia, “a exclusão social deixa o indivíduo vulnerável, com sentimento de inutilidade que pode fragilizar seus laços sociais e, às vezes, desencadear situações graves”. Considerando isso, a acessibilidade deve garantir segurança e autonomia. “Enquanto depender de terceiros não há acessibilidade”. As tecnologias assistivas foram citadas como importantes recursos que permitem uma vida independente e possibilitam a inclusão. “É importante entender que ao falarmos em tecnologia assistiva não estamos considerando apenas equipamentos modernos, caros e ou tecnológicos. Muitas vezes, são acessórios simples e que fazem muita diferença”.
Na formação profissional da/o psicóloga/o o tema da diversidade e inclusão ainda não é visto como algo transversal. “Quando é trabalhado na formação, o tema geralmente aparece apenas em disciplinas de Psicologia Escolar, Psicologia Comunitária ou Psicologia Social, não está relacionado ao fazer do psicólogo de uma forma geral e nem é associado aos direitos humanos, permeando a prática profissional em todas as áreas de atuação”, afirma a psicóloga Vitória Bernardes, mulher com deficiência física, integrante do movimento social Inclusivass. Vitória levantou alguns questionamentos sobre a necessidade de a Psicologia se construir como uma profissão cada vez mais plural e comprometida no acolhimento do outro. Para isso, é preciso aproximar-se dos movimentos sociais, dominar o conceito da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e entender a pessoa com sua singularidade. Outro conceito que precisa ser difundido é o de capacitismo, relacionado às pessoas com deficiência assim como o machismo para as mulheres, e que está presente principalmente nas organizações e no mercado de trabalho. “É papel da Psicologia lutar contra ambiente opressor que muitas vezes existe nas organizações”, declarou Vitória. A psicóloga também ressalta a necessidade de um olhar específico voltado às mulheres com deficiência e ao desenvolvimento de ferramentas que possibilitem o empoderamento das pessoas com deficiência. É preciso essa articulação principalmente diante de retrocessos que poderão refletir na perda da garantia de direitos. “A Lei de Cotas está ameaçada pela Lei da Terceirização, pois ao terceirizar a atividade principal de uma empresa o número de funcionários e a cota para pessoas com deficiência serão revistos”.
A falta de autonomia das psicólogas para atuar na área da Avaliação Psicológica foi também destacada no evento, considerando poucas opções de testes psicológicos adaptados. Com relação ao trabalho na Psicoterapia, a psicóloga Juliana Neves, especializada em atendimento para pessoas com deficiência psicossocial, citou as adaptações necessárias principalmente com relação à comunicação e língua e ao setting terapêutico. Em sua pesquisa de mestrado “Psicoterapia Psicanalítica com pacientes surdos: um estudo qualitativo sobre aspectos e adaptações técnicas da prática”, Juliana entrevistou profissionais que realizam atendimento dessa população. “A escuta do profissional sobre o inconsciente e subjetividade do paciente, será a mesma que com ouvintes. Contudo, é importante o terapeuta ir além da Língua de Sinais. Aprender Libras é fundamental, mas também é preciso conhecer o contexto social no qual o surdo está inserido”.
No evento foi apresentada a da Nota Técnica 005/2017 da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, que orienta a inclusão de pessoas com transtornos mentais à rede de atenção psicossocial, que inclui também deficientes intelectuais, físicos, visuais, auditivos e múltiplos. O documento encaminhado pelo Conselho Federal de Psicologia é importante por apresentar um olhar diferente sobre as peculiaridades de pessoas com transtornos mentais, garantindo a elas os mesmos direitos das pessoas com deficiência.
O debate foi coordenado pela conselheira Priscila Pavan Detoni, presidente da Comissão de Direitos Humanos, que lembrou que essa discussão perpassa várias comissões, como a Psicoterapia, Políticas Públicas e Direitos Humanos e que esses espaços são abertos à participação de toda categoria e estudantes. A agenda pode ser acompanhada no site crprs.org.br/atividades.
-> Confira outras atividades promovidas pelo CRPRS pelo Dia da/o Psicóloga/o em crprs.org.br/fazadiferenca.