Para marcar os 51 anos do Golpe no Brasil, as Comissões de Direitos Humanos e Políticas Públicas do CRPRS promoveram a roda de conversa “Ressonâncias da violência de Estado na contemporaneidade” na quarta-feira, 01/04, na sede do CRPRS em Porto Alegre.
A conselheira Caroline Martini Kraid Pereira, presidente da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, destacou a importância falarmos do assunto já que, para muitos, a ditadura nem aconteceu, para outros, o Golpe foi uma revolução. “O fato das pessoas pedirem a volta da ditadura é preocupante”.
Ainda hoje, vivenciamos resquícios desse período com práticas de violências de Estado sendo aplicadas contra novos inimigos. “Os antigos subversivos ou comunistas são hoje os bandidos ou os pobres que moram nas favelas. Torturas ainda são utilizadas em delegacias e nas favelas pacificadas. O caso Amarildo, por exemplo, é um dos poucos que ganhou visibilidade nacional. Muitos outros acontecem e precisamos estar atentos a isso”, afirmou a psicóloga Gabriela Weber Itaquy, mestranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS).
Em sua fala, Gabriela ressaltou a importância do trabalho desenvolvido pela Comissão da Verdade, como um espaço de escuta, narrativa e testemunho. Porém, segundo ela, ainda há muito a ser feito. “A grande quantidade de indígenas mortos na ditadura, por exemplo, é algo que ainda precisa ser investigado”.
Eduardo Pazinato, advogado, especialista em Segurança Pública e Cidadania, participou da atividade explicando a importância de estabelecer articulações em defesa dos direitos humanos e na necessidade da sociedade pensar em uma reforma das instituições de segurança pública e justiça criminal. “Vivemos um momento de dissonâncias e precisamos nos conectar para estabelecer uma agenda comum de direitos humanos e, assim, avançar na discussão de alguns temas”. Temas como a redução da maioridade penal ganharam destaque na mídia, fortalecendo discursos construídos com base em uma lógica punitiva ou em visões conservadoras. “Temos que trabalhar a questão cultural para tentar reverter isso. Pensar na criminalização das drogas pelo viés da segurança pública e da saúde ou ampliar o debate sobre a revogação do estatuto do desarmamento, por exemplo”.
Outros exemplos de violência de Estado foram relatados pelos participantes da roda de conversa mostrando que diferentes formas de violência de Estado, utilizadas durante o período da ditadura civil-militar no Brasil, ainda fazem parte de nosso dia a dia.
Saiba mais
- Em 2014, o CRPRS lançou a publicação o e-book “Da Vida que Resiste – Vivências De Psicólogas(os) entre a Ditadura e a Democracia”. O livro, disponível em www.crprs.org.br/davidaqueresiste,
apresenta entrevistas realizadas com psicólogos/as do estado que vivenciaram a ditadura e têm algo a dizer sobre o terrorismo de Estado ou sobre as ações de resistência ocorridas no período de 1964 a 1985.
- Na edição nº 65 do jornal EntreLinhas, a reportagem "Ditadura e violência de estado" propôs uma reflexão sobre diferentes formas de violência de Estado utilizadas durante o período da ditadura civil-militar que ainda fazem parte de nosso dia a dia. Acesse
www.crprs.org.br/entrelinhas65.