Poesia, música, afeto, emoção, existência e resistência marcaram a primeira Gira Poética no CRPRS, que teve como tema “Entre atrevimentos, vivências, gestos-ventania. Como saboreamos em nossas práticas a arte e a poesia?”. A iniciativa das Comissões de Relações Étnico Raciais e de Processos Clínicos e Psicossociais foi realizada na noite de sexta-feira, 02/12, no auditório do CRPRS, em Porto Alegre, em alusão ao 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
A conselheira Camila Dutra dos Santos, presidenta da Comissão de Relações Étnico Raciais, destacou na abertura a importância de, no ano em que a Psicologia comemora 60 anos de regulamentação profissional, reconhecer a luta de parte da categoria, especialmente de intelectuais negras no reconhecimento das pluralidades das vivências, na clínica, na formação, nas políticas publicas de Saúde e Assistência Social e em todas as áreas de atuação da profissão.
Para o conselheiro Ademiel de Sant’Anna, presidente da Comissão de Processos Clínicos e Psicossociais, o enfrentamento do racismo e do sexismo deve ser constante na prática profissional, pois está ligado à saúde mental. “As corpas negras sistematicamente precisam se proteger das pessoas que acham que nossos corpos são aqueles que apenas resistem, que não precisam existir. Estamos aqui afirmando a vida, afirmando nossa resistência e, sobretudo, nossa existência”, destacou lembrando que essa é a primeira gestão formada por oito pessoas negras, num grupo de 30.
A Gira Poética teve inicio com a apresentação do coletivo Afoxé às Yabás, formado por mulheres capoeiristas, dançarinas, ativistas e musicistas, unidas para vivenciar o Afoxé.
Logo após, Lilian Rose Marques da Rocha, analista clínica, musicista, escritora e conselheira da Associação Negra de Cultura e Diretora de Relações Sociais da ALB-RS, com a potência de sua voz, compartilhou sua arte declamando poemas de sua autoria, publicados nos livros “Menina de tranças”, “Travessias de Amanaã” e “Àgò”.
Maíne Alves Prates (CRP 07/17003), poeta, trabalhadora da saúde (CAPS AD III NHNI) e promotora de saúde da população negra. “A minha sensibilidade da poesia me tornou psicóloga”, explicou a convidada contando parte de sua história de vida ligada à poesia, marcada por tentativas de silenciamento.
As mais de 40 pessoas presentes na Gira também puderam apresentar suas artes. Pablo Alves da Silva (Slam do Espinho); Úrsula Ingrid de Souza Faria; Bruno Conceição; Ezequiel Amaral (autor de Bixa Preta & Amefricana: Contação de Histórias dos Becus à Ancestralidade); Caroline Rodrigues Ferreira, Rick Ricardo da Silva e Ariane Moreira compartilharam suas poesias durante da Gira Poética do CRPRS.
O evento deu início a um debate sobre a articulação de fazeres da Psicologia com a arte e a poesia que seguirá pelo próximo ano no CPRRS. “A ideia é afirmar, em ato nos territórios ocupados pelo Conselho, a importância política e histórica que se ativa com as memórias artístico-poéticas das existencialidades negras e indígenas no território do Rio Grande do Sul. Essa reflexão irá espiralar em gira, primeiramente na sede e, na sequência, nas subsedes, com debates sobre as intersecções de raça e etnia que transversalizam as frentes trabalhadas pela Psicologia e orientar a categoria sobre as intersecções de raça e etnia que transversalizam as frentes trabalhadas pela profissão, entendendo as dimensões estruturais do racismo e do sexismo na sociedade brasileira”, explicou Ademiel após ler sua poesia autoral "Vocês podem me escutar?" publicada no livro “Matripotência e Mulheres Olùṣọ́: memória ancestral e a enunciação de novos imaginários”.
Assista ao vídeo da “Gira Poética – Entre atrevimentos, vivências, gestos-ventania. Como saboreamos em nossas práticas a arte e a poesia?”: