Organizada pela Comissão de Direitos Humanos do CRPRS (CDH), a roda de conversa “Práticas psis com mulheres: silêncios, escutas e caminhos” aconteceu em 30/03, às 19h, e reuniu, por videochamada, a categoria para debater os diferentes contextos que a Psicologia enfrenta frente à opressão de gênero e às formas de silenciamento do sofrimento.
O evento foi o primeiro do ciclo de reuniões da CDH a fim de discutir temas, de atuação psicológica, que precisam ser debatidos sob a perspectiva dos Direitos Humanos. Alusivo ao dia 8 de Março, a reunião contou com a exposição de realidades de violências contra a mulher e, ainda, com a participação de cinco convidadas: as psicólogas Karina Acosta Camargo, Angela Esther Ruschel, Gislei Lazarotto, Maíra Freitas e a estudante de Psicologia da Universidade Federal do RS Maria Gabriela Adams.
Representando a Clínica Feminista na Perspectiva Interseccional da UFRGS, Maria Gabriela enfatizou que o objetivo do processo de cuidado com mulheres em situação de vulnerabilidade e/ou violência é deslocar as ferramentas de escuta do seu lugar habitualmente conhecido, como o individual, optando por construir um espaço coletivo. Ou seja, em duplas ou em grupo, tomando a companhia como um dos instrumentos da própria perspectiva teórica e metodológica do feminismo para este trabalho.
Por isso, o principal destaque da roda de conversa deu-se pela necessidade, de quem está na condição de ouvir o testemunho de feridas sociais, encarregar-se socialmente e coletivamente nesse processo.
Entre as realidades trazidas para a atividade, Karina Acosta Camargo, autora do livro “Fios de Outro no Abismo: cartografias de um abuso sexual infantil”, destacou a trama silenciosa que se constrói nos abusos sexuais, principalmente no âmbito intrafamiliar, e do contínuo peso sobre o corpo e a existência das meninas que sofreram abuso.
Angela Esther Ruschel, membro do Fórum Aborto Legal do RS trabalhadora do serviço de referência de abortamento nos casos previstos em lei do Hospital Presidente Vargas, em Porto Alegre, compartilhou, ainda, a experiência de testemunho das mulheres que buscam o direito de abortar em situação de violência sexual, atravessadas por muitas barreiras materiais, culturais e psicossociais. Ela lembrou, durante sua fala, as diversas camadas de silenciamento em torno do tema: seja político - que fez com que apenas no final da década de 90, quase 60 anos após a previsão em lei do abortamento em caso de violência sexual, fossem criados os serviços de referência para o procedimento – ou cultural, que se traduz em vergonha, solidão e negação sobre a violência sofrida por muitas mulheres.
No decorrer do evento, cerca de 100 pessoas estiveram presentes na vidochamada e depararam-se com um espaço de troca por meio da arte – com músicas de mulheres feministas tocadas no início e no final da roda de conversa –, da escrita e da poesia e, ainda, por meio de partilha de experiências, questionamentos e reflexões.