Organizada pela Comissão de Políticas Públicas do CRPRS e Centro de Referência em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop/CRPRS), a roda de conversa com psicólogas/os que trabalham em UTIs Covid e emergências do RS, aconteceu na última quinta-feira, 18/03, às 18h45. A atividade teve como objetivo oferecer um espaço de troca de experiências nos processos de trabalho dessas/es profissionais.
Mediada pela conselheira do CRPRS Carla Tomasi, a conversa contribuiu como forma de pesquisa para que o Conselho, juntamente com o CREPOP, traçasse quais foram às mudanças no fazer profissional da categoria, enquanto atuante na linha de frente contra a Covid-19, nos hospitais do RS. “Ninguém poderia imaginar a situação que estamos vivendo hoje e, por isso, queremos ouvir vocês e saber como seus trabalhos estão se desenvolvendo, diante desta nova realidade.”, introduziu Carla às/aos psicólogas/os.
Segundo Elis Rossi, trabalhadora do CTI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a prática das/os psicólogas/os que estão nas UTIs Covid e emergências mudou completamente. “O nosso trabalho tornou-se algo muito reflexivo, desde questões de como íamos acessar os pacientes contaminados até como manteríamos contato com suas famílias.“, explicou Elis. No decorrer de sua fala, ela destaca que foi necessário investir em ações humanistas, como, por exemplo, ligações telefônicas com os familiares e visitas virtuais. Também, durante as internações, foi proporcionado a essas famílias o envio de fotos para que estas fiquem com os pacientes (estando eles acordados ou não).
“Recriamos, ainda, a ideia dos super crachás para que possamos nos reconhecer, mesmo com todos os equipamentos de segurança. E, além dessas ações de humanização, criamos um grupo de comunicação dentro do hospital - formado, basicamente, por médicas/os, enfermeiras/os e psicólogas/os - para auxiliar nessas mudanças dos processos de trabalhos, sejam elas sobre o uso de EPIs, risco de contaminação e/ou vacinação.”, salientou a trabalhadora do Hospital de Clínicas.
A psicóloga fiscal do CRPRS, Flávia Mattos, lembrou que, nesta semana, o Brasil completa 13 meses de Covid e um ano das medidas de isolamento no RS. “No ano passado, havia grande comoção em torno dos acontecimentos da Itália e pairava, entre muitos de nós, a ilusão de que no Brasil, a Covid não causaria tamanho estrago. Infelizmente, hoje, no nosso país, as estatísticas do coronavírus superaram muito as da Itália e ainda não vislumbramos o dia de estagnação desses números assustadores”.
Para Simone Scremin, psicóloga da Emergência do HCPA, o trabalho da Psicologia na emergência pode ser dividido em dois momentos: primeira e segunda onda. Durante 2020, as emergências conseguiram manter-se com um determinado número de pacientes e, naquele momento, diante da insegurança e do medo, com relação ao contágio, as/os profissionais tiveram a possibilidade de se envolverem muito com as questões das equipes. Agora, essa realidade mudou. “Hoje, não se tem mais tempo para olhar para a equipe, porque esse tempo está totalmente voltado à assistência dos pacientes e das famílias”, lamenta Simone ao lembrar que, atualmente, o Rio Grande do Sul vive o pior momento da pandemia até agora.
Representando a CTI do HCPA, Rita Prieb, afirmou que, no ano passado, as psicólogas realizaram mais de 16 mil intervenções com pacientes e seus familiares na UTI Covid do hospital. “A gente não quer que reconheçam os corpos, a gente quer que reconheçam a vida, enquanto ela ainda está lá”, garantiu Rita, refletindo a sensibilidade da Psicologia no contato com as famílias em sofrimento.
No decorrer da roda de conversa outras trabalhadoras compartilharam suas experiências e, para Flávia Mattos, a atividade conseguiu oferecer um ambiente de acolhimento entre as/os profissionais presentes. “O objetivo era esse: realizar um evento que deixasse as participantes com um sentimento de pertencimento a um coletivo e cuidado, durante um momento tão difícil.”, conclui.
Assista a atividade na íntegra: