Pandemia da Covid-19 e boas práticas: o desafio da Psicologia Organizacional e do Trabalho
No segundo dia de seminário, em 09/06, o papel da/o psicóloga/o frente à emergência da saúde mental das/os trabalhadoras/os foi discutido com maior profundidade na mesa “Pandemia da Covid-19 e boas práticas: o desafio da Psicologia Organizacional e do Trabalho”. Desta vez, a atividade contou com a participação de mais três convidadas especiais para falar sobre modelos de implementação de políticas de saúde mental em empresas e instituições, durante a pandemia.
A psicóloga Ana Claudia Souza Vazquez (CRP 07/25788), mestre em Saúde Coletiva pela UERJ e doutora em Administração pela UFRGS, apresentou à categoria um projeto estratégico para bem-estar no trabalho, desenvolvido pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que tem como objetivo realizar ações que contemplem a ideia de serviço saudável com a de serviço seguro. “Desenvolvemos um plano de integridade em saúde mental no trabalho, preservando as outras esferas de vida. A UCSPA criou, também, um mapa de risco para suas/seus servidoras/es, onde é indicado a prontidão que cada uma/um tem para a retomada presencial.”, explicou a convidada ao sugestionar o Departamento de Bem-Estar, Saúde e Segurança da Universidade como um exemplo de implementação de política de bem-estar na área da Psicologia Organizacional, por meio do acolhimento, da escuta ativa e da geração de evidência.
Durante a fala da convidada Lizandra do Amaral (CRP 07/13815), pós-graduada em Liderança Estratégica de Negócios e Pessoas pela ESPM e líder da área de Saúde Corporativa da Unimed Porto Alegre, foram apontadas algumas ações que empresas e instituições podem tomar em prol da saúde mental de suas/seus colaboradoras/es, como, por exemplo, entender o perfil das/os funcionárias/os e a situação epidemiológica que eles se encontram, sensibilizar as lideranças e estabelecer uma relação de confiança entre todas/os que compõem a organização, além de promover eventos como a “semana da saúde mental”, com espaços para conversas, lives, meditação e yoga. “Com a pandemia, nós, da Unimed de Porto Alegre, fizemos contato com todas/os as/os nossas/os funcionárias/os, a fim de saber como elas/eles estavam. O objetivo era promover um ambiente de acolhimento e deixar evidente que a empresa estava empática com toda esta situação. Com isso, constatamos que havia muita ansiedade e insegurança entre elas/eles , medo de contrair a doença e de contaminar a família.”, explicou Lizandra.
“A gente sabe que, para uma pessoa dar seu melhor no local de trabalho, ela tem que se sentir em um ambiente facilitador e seguro. Por isso, lançamos o Modelo de Intervenção em Saúde Mental, baseado na realização do diagnóstico, na elaboração do plano de ação e na intervenção de cuidado”, completou.
Francieli Katiuça Teixeira da Cruz Severo (CRP 07/29382), mestre em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS e pesquisadora no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde e Trabalho da UFRGS, falou sobre sua atuação como psicóloga técnica em Acolhimento Institucional na ABEFI e os desafios de atuação com a pandemia. O trabalho de acolhimento institucional, que oferece um acompanhamento psicossocial de crianças e adolescentes com medida protetiva, está organizando dentro da política do Sistema Único de Assistência Social e é pensado com base na garantia de direitos de crianças e adolescentes. Levando em conta toda essa dinâmica institucional, Franciele destacou que o trabalho se dá de forma muito articulado com a equipe técnica. “Foi preciso pensar no cuidado, na escuta, para tentar entender desafios das/os trabalhadoras/es que atuam no local diante da pandemia. No início, o medo era de contaminar crianças e adolescentes que estavam isolados nos abrigos. Como continuar atendendo essas crianças sem levar risco? O adoecimento de colegas e familiares também afetou a equipe. Além do medo de perder emprego, por ser um trabalho terceirizado”. A convidada também destacou a sobrecarga de trabalho gerada com o aumento de violações durante a pandemia e a preocupação com a institucionalização total, que ocasionava um aumento do sofrimento para as crianças e adolescentes acolhidos. “A realidade nos coloca diante da necessidade de reinventar e dar novo sentido ao nosso trabalho”.
Para a conselheira mediadora do segundo dia do seminário, Fabiane Machado, essas ações, voltadas a um cuidado integral em saúde, precisam ser permanentes. “Eu acredito que a pandemia nos ensina que daqui para frente é essa a linha de cuidado que tem que ser explorada”.
A atividade do dia 09 foi encerrada com o lançamento da cartilha “Temas em Psicologia Organizacional e do Trabalho”, produzida pela Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho do CRPRS. Clique aqui para saber mais.