Na retomada do ciclo “A branquitude e o racismo têm dessas coisas”, o CRPRS discutiu sobe autocuidado e bem-viver, em evento que lotou o auditório do CRPRS. A atividade, realizada na quinta-feira, 24/08, foi promovida pela Comissão de Relações Étnico-Raciais e marcou o lançamento do Núcleo de Psicólogas Indígenas.
“Este espaço é nosso e precisamos ocupá-lo”. Com essa convocação a presidenta da Comissão de Relações Étnico-Raciais, Camila Dutra dos Santos, abriu o evento convidando psicólogas/os negras/os e indígenas a, cada vez mais, participar das ações do CRPRS. A conselheira presidenta do CRPRS, Míriam Cristiane Alves, e o vice-presidente, Ademiel de Sant'Anna Junior, deram as boas-vindas às/aos presentes, ressaltando a importância desse lugar de protagonismo conquistado pelas pessoas negras nessa atual gestão.
Na sequência, as psicólogas Gláucia Maria Dias Fontoura (CRP 07/15376), Eliana Costa Xavier (CRP 07/09490) e Bárbara Susana da Silva Duarte (CRP 07/17382) resgataram o histórico da pauta das relações raciais no Sistema Conselhos de Psicologia, do ativismo social, com o trabalho das psicólogas pretas desenvolvido na ONG Maria Mulher, à aproximação com a academia e com o Conselho. “Relatos cotidianos de microagressões interseccionadas por gênero, raça e classe social, a presença do preconceito e discriminação, as dores provocadas pelo racismo e sofrimento psíquico foram com essas pautas que começamos a discutir o tema”, relembrou Eliana. A partir de 2009 começaram a compartilhar essas experiências no CRPRS, inicialmente como um Grupo de Trabalho, depois como Núcleo e, mais recentemente, como Comissão. “Em 2015 lançamos a campanha “O racismo tem dessas coisas”, compartilhando depoimentos e provocando a categoria: psicóloga/o como você escuta isso?”, lembrou Gláucia citando também a importância política com a mobilização nos Congressos Regionais e Nacional da Psicologia.
A segunda mesa do Ciclo “Da perspectiva colonial às tecnologias ancestrais de cuidado” foi mediada pelo psicólogo Vincent Pereira Goulart (CRP 07/30689). Simone Vieira da Cruz (CRP 07/12179), mestra em saúde coletiva, integrante do Movimento de Mulheres Negras, falou sobre seu trabalho à frente do Coletivo Feminista de Autocuidado e Cuidado entre Defensoras de Direitos Humanos, fundado em 2014. “Como tornar o cuidado conosco uma prioridade? Precisamos entender que a omissão dessas desigualdades que nos afetam é cúmplice da violência. O conceito de autocuidado não pode ser construído de forma universal, depende de cada contexto, lugar, território”, destacou.
Falando sobre a união dos saberes indígenas com a Psicologia e sobre o conceito de bem-viver, Daniela dos Santos Nunes (CRP 07/28323), indígena kaikang, reforçou a importância de se trabalhar com esse conceito desde a formação, superando a lógica de uma Psicologia branca. “A realidade indígena sempre esteve muito afastada da Psicologia na minha formação. Fui buscando outros sábios, como Pedro Garcia e Nita Tuxá, que compreendi que essa relação era possível”, afirmou. Para ela, o bem-viver indígena deve levar em conta a liberdade de cada pessoa e de sua cultura. “Na minha escuta, tenho que respeitar as especificidades de cada cultura, permitir que consultem seus líderes espirituais, por exemplo.”