As questões da terra são um campo pouco explorado na Psicologia, no entanto, isso está mudando. Segundo o psicólogo e professor da Universidade do Rio Grande do Norte (UFRN), Jáder Ferreira, dos 230 mil psicólogos no Brasil, 48% já atuam em municípios de pequeno e médio porte. Além disso, dos 500 cursos de Psicologia existentes no País, mais de 50% já estão em cidades do interior.
A atuação da Psicologia nas questões da terra foi tema do debate online “A questão da terra: os indignados e a contemporaneidade” realizado ontem (27/02) pelo Conselho Federal de Psicologia. De acordo com Ferreira, os estudos feitos por psicólogas (os) sobre as comunidades do campo devem ser um resgate à memória e história desses povos, como afirmação de suas próprias origens.
Durante o debate, a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Fabiana Campos, fez um relato histórico da questão da terra e destacou os casos de violência no campo. Para ela, as (os) psicólogas (os) podem atuar em questões que afligem os trabalhadores do campo, como a escravidão moderna e os transtornos mentais causados pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras.
“O debate com a questão da Terra não pode ocorrer de forma isolada, mas em um conjunto de saberes. Precisamos colocar os saberes em diálogo e não o excesso em especialização que tem marcado nossa profissão”, advertiu Fabiana.
A violência no campo também foi lembrada pelo professor da Universidade de Brasília e relator do Direito Humano à Terra, ao Território e à Alimentação da Plataforma Dhesca Brasil, Sérgio Sauer. Segundo ele, as comunidades rurais (incluindo indígenas e quilombolas) sofrem com tanto com a violência física quanto com a “violência simbólica”, responsável pela negação da própria identidade.
Ele citou ainda casos de violações de direitos humanos no campo, como o massacre de Eldorado de Carajás, no Pará, e os conflitos em Corumbiara, em Rondônia. Para ele, a atuação e a prática contra a violência e a produção do conhecimento são essenciais para a discussão das questões da terra no país. “Historicamente, as populações (do campo) sofrem com a violência simbólica e a negação de sua identidade”, ressaltou.
Consulta pública
O debate online fez parte do lançamento do documento de referência do Crepop “Propostas de Atuação da Psicologia no Campo das Políticas Públicas Relativas à Questão da terra”, produzido por especialistas a partir das contribuições da categoria. O documento entrou em consulta pública e pode ser acessado pelo link:http://www2.pol.org.br/pesquisacrepop/consultapublica12/
Para a conselheira Roseli Goffman, que mediou o debate, o objetivo da consulta pública é trazer contribuições e qualificações das (os) psicólogas (os). Ela também citou as ações que o CFP vem realizando com os movimentos sociais, como as mobilizações em torno das demarcações das terras indígenas, como da Aldeia Maracanã (Rio de Janeiro) e dos Guarani-Kaiowá (Mato Grosso do Sul); e em outros temas como a reforma agrária. “Nosso objetivo é refletir como a (o) psicóloga (o) pode contribuir na produção da subjetividade, articuladas com a questão da terra”, ressaltou.
A consulta, prevista inicialmente somente aos profissionais da Psicologia, foi ampliada. A partir de agora, estudantes também podem contribuir.
Fonte: www.cfp.org.br